No dia que o meu filho nasceu, a cinco anos e meio atrás, no leito do hospital, enquanto ele e meu marido dormiam, eu escrevi a primeira carta de muitas que ao longo da vida escreverei para ele.

“Santo André, 05/01/2011,

Querido filho Adriano,

Obrigada por ter me escolhido para ser sua mãe. A emoção que venho sentindo nos últimos 9 meses e que senti hoje ao ouvir seu choro, tem feito de mim uma mulher melhor e se Deus quiser, isso tudo tem a fazer de mim uma mãe sábia, amável, companheira, capaz de sempre te ajudar, te amar, te guiar e fazer de você um homem bom, justo, querido, que saiba ter discernimento e consiga distinguir o certo do errado, o bem do mal.
Você acabou de chegar e já me transformou. O meu coração é só amor. Agradeço a seu pai por esse presente que recebi hoje. Agradeço a vovó Dedé e ao vovô Sérgio por terem sempre me amado e me darem a base para conseguir ser para você o que eles são e foram para mim. Eu te amo meu filho. Deus te abençoe hoje e sempre.
Beijos da sua mãe.”

Desde a gravidez e sei que durante toda a minha vida me esforçarei para que meu filho seja o que desejei ao escrever essa carta, um homem bom, justo, e fico entristecida quando ao longo do nosso percurso, aparece a sua pequena, de apenas 6 anos e faz com que eu tenha que ensiná-lo que as pessoas nem sempre são boas, que elas fazem bullying, que são capazes de nos maltratarem e independente da idade, nem sempre quem poderia ser nosso amigo o é, pior ainda, elas tem o poder de persuasão para fazerem com que parte de um grupo do qual ele até então fazia parte e era querido passe a maltratá-lo.

Mãe da menina de 6 anos, sou sua amiga e sei que na sua percepção, como você mesma me disse, “o santo deles não batem” e você não faz nada porque ela é (provavelmente em casa) uma criança carinhosa e que simplesmente não gosta dele.

Jamais pensei em ouvir do meu filho, aos 5 anos que ele odeia uma pessoa, e ontem partiu meu coração ao ouvir ele dizendo isso em alto e bom tom para a sua filha.

Jamais imaginei que eu como mãe teria que ensiná-lo a se defender dos próprios amigos que cresceram com ele, porque fazem contra ele todo o tipo de maldade que a sua menina ordena.

O que ela faz com o meu filho, eu já vi ela fazendo com outras crianças, e é com tristeza que imagino que tipo de ser humano ela se tornará. Que tipo de amigos terá.

Felizmente as outras meninas e nem todos os meninos fazem o que ela manda.

Não, não é legal as crianças estarem brincando com o meu filho e a partir do momento que ela chega ninguém mais olhar para ele.
Não, não é legal ela dizer para todos não falarem com ele.
Não, não é legal ela mandar os amigos jogarem areia no meu filho quando ele está quieto, sentado jogando Minecraft.

Nada do que ela faz para o meu filho é legal.
Nada do que ela faz para o meu filho é porque o “santo deles não batem”.

Tente ao menos uma vez se colocar no meu lugar.
Tente ao menos uma vez pensar que assim como eu tem outras mães no grupo que se preocupam se os filhos serão a próxima vítima da sua menina.

E para as outras mães que sabem que seus filhos ajudam a sua filha a fazer bullying no meu filho, espero que também não passem por essa situação e que consigam ver que isso que acham normal agora pode ser algo grave no futuro.

Meu filho não é perfeito, ele é manhoso, ele tem os seus defeitos, mas é uma criança repleta de amor, é o que chega em qualquer lugar e faz amigos, é querido na natação, no inglês, no parquinho, na escola, ele é até muito querido pelos meninos que fazem bullying nele quando não estão com a sua filha.

Assim como eu desejo que ele cresça e seja um homem bom, justo e querido eu espero de coração que a sua filha também seja uma boa mulher, com princípios, justa e que consiga conviver e respeitar o próximo.

Enquanto você achar que o problema é o “santo deles não baterem”, infelizmente o que ela faz com ele e já fez com outros irá continuar sendo parte presente da vida dela.

Pense nisso com carinho, não custa nada sentirmos empatia pelo próximo, eu sei que você sente e o faz lindamente no seu trabalho, espero que consiga assim como eu fazer que nossos filhos aprendam desde cedo o sentido dessa palavra com o poder de transformar o mundo.

By Veri Serpa Frullani

Veri Serpa Frullani, brasileira, mãe e esposa, atualmente vive em Dubai, já morou em Nova York, São Paulo e Rio de Janeiro. Bacharel em Turismo, produtora multimída, escritora, designer de acessórios, também é editora do Portal Vida Adulta, do Geek Chic e do Firma Produções. Já editou os extintos Brazilians Abroad e Comida Brasileira. Veri Serpa Frullani tem presença e influência na internet desde 1999, já foi colaboradora de vários projetos e sites, entre eles TechTudo, Digital Drops, Olhar Digital e dos extintos Nossa Via e Deusario.

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