morte

Desde pequena sempre tive muito medo da morte, medo de morrer, medo de quem já morreu, medo que os espíritos viessem puxar o meu pé no meio da noite, medo… simplemente medo.

Minha mãe não levava filho nenhum em enterro ou velório, com isso, minha avó materna morreu e não fomos vê-la, meu avô paterno morreu e também não fomos vê-lo, nem nos despedir… Minha mãe dizia que ali, naquele local, não estaríamos vendo os entes queridos, que eles já tinham ido embora e era melhor ter como recordação na memória a imagem deles vivos e felizes.

A primeira vez que fui a um velório, foi de um conhecido que havia sido assassinado banal e brutamente aos 28 anos de idade em um posto de gasolina no Leblon, e por ter medo da morte e dos mortos, fui com os amigos, mas fiquei impressionada, lembro que tremi o tempo todo…

Alguns anos depois, o pai da filha de uma amiga, faleceu e fui ao cemitério com a minha amiga e sua filha, não entrei no velório, nem mesmo acompanhei o caixão, fiquei ali do lado de fora com a pequena que na época tinha apenas cinco anos.

Mais de 10 anos se passaram, nesse período de tempo, meu avô materno faleceu e  por mais que eu tentasse, não daria tempo de ir ao enterro, então me despedi dele aqui no blog.

Terça-feira passada, a vida me colocou em uma situação inesperada, acordei, recebi logo cedo uma ligação de um amigo que mora em Barcelona, conversamos durante horas, rimos, matamos a saudade e ao desligar, o telefone tocou novamente e era minha tia.

Seu pai, o avô dos meus primos havia falecido e ela estava no hospital, cerca de 20 minutos da minha casa, e logicamente, não pensei duas vezes e meu marido me levou ao seu encontro.

Para quem cresceu tendo medo da morte, ir a um hospital nessas circunstâncias pode parecer algo assustador, mas não foi … fui calma, fiquei ao lado dela durante todos os momentos, fui com ela e com o meu tio no cartório e foi então que aprendi o quão complicado é morrer.

Uma burocracia necessária existe, mas em um momento tão duro quanto a perda de um ente querido, ter que ir registrar o óbito, ter que levar carteira de identidade, título de eleitor, certidão de casamento… quem vai pensar nesses detalhes em uma hora como essa?

Após o registro do óbito, o corpo foi liberado para ser levado ao cemitério e foi então que pela primeira vez na vida,  não tive medo da morte, nem dos mortos, vi o corpo ser ajeitado, fiquei ao lado do caixão e consegui orar e pedir a Deus que o recebesse.

Aos 30&Alguns, vejo que o medo, não era simplesmente da morte, era do desconhecido, ainda que o ato de morrer continue sendo algo extremamente desconhecido, mas hoje compreendo tudo com outros olhos e desejo que o Seu José tenha feito essa transição em paz.

By Veri Serpa Frullani

Veri Serpa Frullani, brasileira, mãe e esposa, atualmente vive em Dubai, já morou em Nova York, São Paulo e Rio de Janeiro. Bacharel em Turismo, produtora multimída, escritora, designer de acessórios, também é editora do Portal Vida Adulta, do Geek Chic e do Firma Produções. Já editou os extintos Brazilians Abroad e Comida Brasileira. Veri Serpa Frullani tem presença e influência na internet desde 1999, já foi colaboradora de vários projetos e sites, entre eles TechTudo, Digital Drops, Olhar Digital e dos extintos Nossa Via e Deusario.

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