Os leitores assíduos do blog sabem que não sou branca, ou seja, sou negra, afro-descendente, preta, mas não sou branca, nem parda, nem mulata.Durante muito tempo me incomodou a noção de que toda mulher negra bonita, era basicamente mulata do Sargenteli ou de escola de samba ou fantasia sexual. E nós sabemos que isso ocorre.
O que me fez tocar nesse assunto, não tem ligação direta com a condição de ser mulher e negra e sim em como a sociedade cria mitos em cima de conceitos de raça, etnias, crenças, opções sexuais, entre outros.
Da mesma forma que cresci e não via muitos negros sendo representados de forma positiva na mídia, geralmente eram os escravos das novelas de época, os motoristas e domésticas das novelas das 8, amantes, prostitutas, etc… Não me recordo de ver nenhum oriental e aqui devo admitir que nem mesmo sei se esse é o termo correto, em novelas, etc… Na verdade, lembro que raramente quando apareciam eram retratados como bobos, sempre rindo e falando errado. Me corrijam caso discordem desse ponto que toquei.
Atualmente, assim como há mais negros na mídia, inclusive apresentando programas, tivemos durante anos a Glória Maria à frente no Fantástico, temos a Thaís Araujó apresentando o Bonita, entre tantos outros jornalistas em diferentes canais de TV, da mesma forma podemos ver mais orientais na mídia, como o programa Tribos apresentado pela Dani Suzuki, e o Pânico na TV que conta com a Sabrina Sato.
Me parece que como agora são novidade, estão se tornando de certa forma fetiche, na revista VIP desse mês, na capa vem escrito “Sabrina Sato o melhor da imigração japonesa”, e no comercial da Suzuki ela diz “Eu sou como a Suzuki: fabricada no Brasil com tecnologia japonesa”.
Não sei não, mas me parece que estamos caminhando para as “novas mulatas”. Eu não sabia o quanto de desaforos e piadas extremamente agressivas os descendentes de orientais escutam, certa vez conversando com a esposa de um amigo do meu marido, ela informou que quando mudou de São Paulo para o Rio, certa vez foi a praia com 2 amigas que vieram visitá-la, e um grupo de rapazes assumiu que por terem o olho puxado e serem três, aqui no Rio é raridade, que eram gringas e começaram a falar todos os tipos de barbaridade, inclusive em relação a posição do orgão genital das moças. No final, assustadas, ligaram para amigos irem encontrá-las na praia para irem embora sem serem importunadas.
Até ela me contar esse caso, eu imaginava que havia preconceito, mas nunca pensei que chegasse a esse ponto. Aos 30&Alguns tenho certeza absoluta que Sabrina Sato não está nem perto de ser o melhor da imigração japonesa (sem querer desmerecê-la), e para saber mais sobre a cultura japonesa, o centário da imigração japonesa, visite o blog Nihon Nikkei – Movimento Dekassegui.
A Sabrina Sato engloba uma boa parte dos piores “valores” morais que o Brasil infelizmente cultiva.
Ela não serve para representar a colônia japonesa.
Veridiana, vc não imagina como está certa nesta sua percepção. Se eu te contar a quantidade de bobagens que escutei em toda vida (antes de estar sempre com marido e filhos, que eu chamo de pequenos guarda-costas, porque eles me protegem de muita coisa) com piadas e cantadinhas de mal gosto sobre gueixas e muito mais. Triste, muito triste. A falta de respeito é tão pesada quanto os estereótipos que envolvem o oriental. Ser quietinha, ser comportada, não ser amistosa, ser timida, ser submissa, enfim, coisas que eu não sou – vc ainda não me conhece, mas não sou mesmo. E a maioria das nikkeis que eu conheço não são nada disto, são mulheres fortes, lutadoras, inteligentes e capazes, mas que conservam, de alguma forma, a gentileza e a moralidade dos ancestrais. Sabrina Sato é um exemplo do que a mídia faz e do que a beleza precoce – das coisas que eu falei no post Mulher, mídia e consumo – pode fazer com a cabeça feminina.
Muito pertinente seu tema e a abordagem, como sempre, me mostra nossas afinidades. Obrigado por citar o Nihon Nikkei! 😉
Veri, parece que ser diferente é ser ruim, é claro, nas cabeças ‘ruins’, pois, quem tenha um mínimo de civilidade e humanidade, jamais teria preconceito. Mas, infelizmente, vemos que pessoas que se julgam a ‘elite’, apresentem comportamentos tão indignos. Particularmente, admiro demais os japoneses, por sua inteligência, sua cultura exótica e exuberante, pela beleza de suas mulheres , que acho lindíssimas. Quando eu era adolescente, colecionava fotos e reportagens sobre o Japão. Sempre tive vontade de conhecer o país.
beijo, menina
Isso é uma completa imbecilidade. Eu tenho primos que são de “origem nipônica” e quando eram pequenos sofreram esse tipo de disciminação. Coisa mais idiota mesmo, só por causa da aparência diferente.
[…] fez um post muito interessante no qual fala que as nikkeis (descendentes de japonês) são as “novas mulatas” . Se eu contar a quantidade de bobagens que escutei em toda vida (antes de estar sempre com marido […]
Não há nada melhor na humanidade do que as diferenças entre todos nós. Imagino a chatisse de um mundo em que todos fossem loirinhos ou negões.
Infelizmente as diferenças, em vez de ser exaltadas, são usadas como motivo de depreciação. Desde sempre, e com qualquer um. Até mesmo eu já sofri com isso, por ser loiro e branco demais, talvez o único aqui da cidade. Mas quando estive em Florianópolis, tive que me segurar para não partir para cima de grupos de pessoas que importunavam minha namorada à época, uma nissei. Ela mal podia andar que já se ouviam gritos e a tenebrosa música “japa girl”.
E hoje vejo, abismado, pessoas do meu convívio que soltam piadas de cunho racista para minha atual namorada – que é negra. O pretexto é brincar, mas o objetivo real, claramente, é ofendê-la. Felizmente ela é consciente e orgulhosa do que é, e isso não a atinge, mas mesmo assim tais atitudes são extremamente lamentáveis.
ops… pisei na bola. CHATICE e não chatisse.