Quando era criança, nunca tive uma boneca negra, nas décadas de 70 e 80 não lembro de ter bonecas negras à venda nas lojas no Brasil, ou melhor dizendo, não me lembro de ter bonecas bonitas negras a venda. Lógico que não era difícil encontrar uma boneca “nega maluca”, mas convenhamos, que criança vai querer carregar uma boneca nega maluca enquanto as amigas carregam os lindos e brancos “Meu Bebê” no colo?

Afinal estou falando de décadas onde negro apesar de em música ouvirem  proclamarem que “Black is Beautiful”, na mídia eram apresentados como serviçais, no melhor estilo senzala e casa grande, ou eram atletas ou comediantes que de certa forma sempre eram humilhados, e nada contra atualmente muitas pessoas dizerem que antigamente o politicamente correto não interferia tanto na forma como a comédia era feita e que até o Mussum ria dele mesmo.

Que bom que ele conseguia rir de si próprio, porque para outros milhares de negros, que não gostavam de “mé”, não falavam errado, nem tampouco gostavam de serem chamados de criolos, nada disso contava, porque muitos se tornaram “Mussums”. Até aí problema algum, se não é seu filho, pai, ou melhor amigo que passa a ser visto e julgado como “Mussum” apenas por ser negro.

Mas, assim é o Brasil, e foi assim que cresci, cercada de bonecas brancas, mimadinha, meu bebê menina, meu bebê menino, Susie, minha filhinha, entre tantas outras, afinal , todo natal era uma boneca nova…

Encontrar bonecas negras a venda no Brasil, ficou menos difícil na década de 2000, digo menos difícil porque ainda encontramos bonecas negras que são horríveis.

Você sabia que apesar de serem conhecidos mundialmente pela segregação racial nas décadas pós 60, nos EUA as bonecas negras surgiram há muito tempo, a primeira boneca negra, amiga da Barbie, que recebeu o nome de Christie, foi criada pela Mattel em 1968, entre 1970-1971 foi a vez da Christie Twist ‘n Turn, que vestia um maio e tinha cabelo crespo e curto, entre 1971-1973 foi disponibilizada a boneca Live Action Christie, com sílios longos e cabelos escorridos passando a altura dos ombros, estilo cantora, entre 1973-1977 a Christie Sunset Malibu, vestindo um maio de nylon e carregando uma toalha foi disponibilizada, a boneca possuia cabelos pretos, escorridos e longos, em 1977 foi lançada a Superstar Christie toda glamurosa, estilo popstar.

Desde então já foram lançadas: Beauty Secrets Christie (1980); Fashion Photo Christie (1977);Supersize Christie (1977); Sun Lovin’ Malibu Christie (1979); Kissing Christie (1979); Golden Dreams Christie (1981); Pink ‘n Pretty Christie (1982); Sunsational Malibu Christie (1982); California Christie (1988); California Dream Christie (1988);  Island Fun Christie (1988); Sensational Belinda (1988) ; Cool Times Christie (1989); Barbie & the Beat Christie (1990);
Barbie & the All Starts Christie (1990); Beach Blast Christie (1990); Dance Club Devon (1990) ; Wet ‘n Wild Christie (1990); All American Christie (1990); Benetton Christie (1991); Hawaiian Fun Christie (1991); Lights & Lace Christie (1991); Rappin’ Rockin’ Charisite (1992); Rollerblades Christie (1992); Sun Sensation Christie (1992); Glitter Beach Christie (1993); Tropcal Splash Christie (1995) , entre tantas outras.

Em 2009, Stacy McBride-Irby, a designer das novas Barbies negras da Mattel, criou as bonecas Grace, Kara e Trichelle, todas com lábios mais carnudos,algumas com cabelos crepos, outras com cabelo liso. Apesar de terem gerado uma certa polêmica nos EUA, afinal fica difícil agradar gregos & troianos, de alguns acharem que elas ainda não são tão negras quanto deveriam ser ou de não terem os cabelos tão crespos como grande parte das meninas negras, aos 30&Alguns, acho que no mercado americano já podemos encontrar uma enorme gama de variedade de bonecas que as crianças podem se identificar, assim como as Barbies asiáticas e as hispânicas. E por aqui, quando será que realmente iremos avançar?

fontes: CNN; Fashion Doll e Kattis Dolls

By Veri Serpa Frullani

Veri Serpa Frullani, brasileira, mãe e esposa, atualmente vive em Dubai, já morou em Nova York, São Paulo e Rio de Janeiro. Bacharel em Turismo, produtora multimída, escritora, designer de acessórios, também é editora do Portal Vida Adulta, do Geek Chic e do Firma Produções. Já editou os extintos Brazilians Abroad e Comida Brasileira. Veri Serpa Frullani tem presença e influência na internet desde 1999, já foi colaboradora de vários projetos e sites, entre eles TechTudo, Digital Drops, Olhar Digital e dos extintos Nossa Via e Deusario.

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