CEMITÉRIO VERTICAL, sob direção do premiado ator, dramaturgo e diretor paulista Eric Lenate, trata-se de experimento cenoexpressivo virtual para o teatro, derivado de um laboratório de criação voltado especificamente para o formato de interação remota e virtual entre artistas e público
Reunindo 12 atores-dramaturgos de diferentes partes do Brasil, o elenco conta com nomes revelações e potentes da cena teatral contemporânea como Vinicius Aguiar, Paloma Alecrim, Rebecca Loise, Paulo Castello e Maria Eduarda Pecego, dentre outros. Em curta temporada com quatro apresentações, sendo as duas últimas 31/07 e 1/8, o espetáculo acontece ao vivo e online através da plataforma Sympla Streaming.
Durante 3 meses, um grupo de 12 artistas que atuam e escrevem trabalharam sob a orientação e provocação do ator e diretor Eric Lenate. O objeto da pesquisa foi o estudo e análise da obra “Necropolítica”, do filósofo, teórico político, historiador e intelectual camaronês Achille Mbembe, as noções de biopoder/biopolítica de Michel Foucault e as correlações com o Brasil atual.O objetivo da pesquisa foi a criação de um campo de experimentações em que esse grupo de atores e atrizes trabalharam seu desenvolvimento pessoal enquanto criadores e criadoras, tanto no campo da atuação, quanto no campo da dramaturgia.
Ao final do processo, tomou corpo este experimento ceno-expressivo virtual composto por 12 solos, em temporada via streaming, com dramaturgia assinada pelo grupo e direção assinada por Eric Lenate. O elenco de 12 artistas é fomado por: Diego Lima, Juliana Poggi, Lorena Garrido, Luís Paulon, Maria Amélia Lonardoni, Maria Eduarda Pecego, Michelle Braz, Paloma Alecrim, Paulo Castello, Rebecca Loise, Renato Izepp e Vinícius Aguiar. A assistência de direção e de provocação dramatúrgica é de Vitor Julian.
CEMITÉRIO VERTICAL é o resultado do laboratório de montagem “Cemitério Vetical – Poéticas de Resistência à Necropolítica”, criada por Eric Lenate especialmente para o projeto de Oficinas de Montagem Inbox Cultural.
Ao transitar entre as sepulturas deste cemitério vertical, o público encontrará a “Verdade Paralela”: um futuro distópico ou uma realidade possível? A cabeça sendo comida por dentro pelos que – aparentemente soterrados – agora se manifestam; uma mulher artista, psicanalista e pesquisadora workaholic que vai perdendo sua memória, percepção e sanidade na medida em que seu companheiro se aproveita do isolamento social da pandemia do COVID-19 para enclausurar sua vida anímica com abusos psicológicos; uma personagem que nasceu, mas não viveu, e que tenta contato com Cristo em busca do seu direito de matar; uma mulher que, ao sentir a morte se manifestar em seu próprio corpo, percebe que passou a vida moribunda, sucumbindo à cultura machista de extermínio de mulheres e do feminino; uma mulher que alega estar acometida de Delirium Tremens Post-Mortem, que trata do alívio de finalmente ser diagnosticada com uma doença que poderia acarretar no ganho pleno da visão; um idealista que rememora sua trajetória até ali, refletindo sobre o que seus desejos e máscaras o transformaram; um executivo que se indiga “não sentir é uma virtude ou um vício?”; a bala perdida que sempre encontra um corpo negro.
Necropolítica, Biopoder, Políticas de Extermínio
O ensaio Necropolítica: biopoder, soberania, estado de exceção, política da morte, de Achille Mbembe, apresenta uma reflexão sobre a expressão máxima de soberania, concebida como “o poder e a capacidade de ditar quem pode viver e quem deve morrer”.
Para Foucault, biopolítica é a força que regula grandes populações ou conjunto dos indivíduos, diferentemente das práticas disciplinares utilizadas durante a antiguidade e na idade média que visavam governar apenas o indivíduo.
Já biopoder se refere aos “dispositivos” e tecnologias de poder que administram e controlam as populações por meio de técnicas, conhecimentos e instituições. Para atender aos interesses e vontades das mais variadas sociedades modernas, ideias de ameaça, medo e ódio ao inimigo foram mantidas como na antiguidade e na idade média. Mas há um diferencial: se antes as guerras eram iniciadas a fim de proteger o soberano, com objetivos delimitados, e a morte de uns asseguraria a existência de todos ao final, os conflitos travados ao longo dos dois últimos séculos mostraram uma crueldade humana sem precedentes. Ou seja, para Foucault os massacres, extermínios e regimes totalitários modernos, como o stalinismo e o nazi-fascismo, radicalizaram os mecanismos políticos de morte já existentes.
Ideias de controle dos corpos, purificação da população, supremacia de um determinado grupo sob outro não surgiram no século XX, mas nesse momento foram amplamente aceitas com base no poder exercido por governos e estruturas administrativas.
Por meio do discurso do Estado tais práticas tornaram-se aceitáveis, mesmo visando a rejeição, expulsão e aniquilação de determinados grupos. Para Foucault, o discurso é o instrumento de poder que determina condutas e valida políticas. No entanto, como analisado pelo mesmo, é preciso cautela ao lidar com tal instrumento já que este acabou possibilitando práticas cruéis e políticas que reforçam estereótipos, segregações, inimizades e extermínios. Em certos episódios da história da humanidade, alguns discursos políticos validaram massacres, extermínios e regimes totalitários modernos. Foi a partir da ideia de que discurso é um instrumento de poder que Mbembe foi além. Em seu livro “Necropolítica” apontou que esses dois conceitos são insuficientes para compreender relações de inimizade e perseguições contemporâneas. Como estudioso da escravidão, da descolonização e da negritude, relacionou o discurso e o poder de Foucault a um racismo de Estado presente nas sociedades contemporâneas, que fortaleceu políticas de morte (necropolítica).
A necropolítica no Brasil
No Brasil, ao longo da história, alguns discursos tiveram o poder de retirar a humanidade de certos grupos através da desclassificação da pessoa, ou seja, da ideia de que ela merecia ser punida ou que as políticas são para a maioria e não para minorias.
A ditadura no Brasil foi um desses momentos. Os 21 anos do regime autoritário resultaram em mortes e corpos desaparecidos. À época, quando um opositor ao regime era preso, torturado ou assassinado, este corpo era considerado um inimigo visível e determinado que merecia um fim. O discurso promovido tinha o poder de estabelecer parâmetros aceitáveis para tirar vidas e controlar as pessoas.
A escravidão também foi um desses momentos. Os 300 anos da precarização de inúmeras vidas foram a base da construção e formação da sociedade brasileira. Mesmo assegurados a todos os direitos que nos igualam de forma jurídica, os dados mostram que nem todos têm as mesmas oportunidades.
Nesse mesmo sentido de marginalização de pessoas, existem discursos que fortalecem a ideia de que existem lugares subalternizados com alta criminalidade em que vidas podem ser tiradas em prol do bem comum. A guerra ao tráfico e à criminalidade no Brasil é um exemplo.
Mas também há necropolítica nas prisões. O tratamento da população carcerária, com punições com foco na privação da liberdade, a superlotação das cadeias e baixas condições sanitárias são reflexos disso. Conforme apontado pelo CONJUR, só em 2018 foram mais de 1.400 mortes em presídios no Brasil.
SINOPSE:
Você está diante do conjunto de lápides de um cemitério vertical. Uma espécie de condomínio funerário onde todos que o habitam foram colocados, em maior ou menor nível, de maneira imposta e impiedosa. Dizem que a morte a todos iguala. Mas os caminhos até ela são bem distintos.
FICHA TÉCNICA
- Dramaturgia e Atuação | Diego Lima, Juliana Poggi, Lorena Garrido, Luís Paulon, Maria Amélia Lonardoni, Maria Eduarda Pecego, Michelle Braz, Paloma Alecrim, Paulo Castello, Rebecca Loise, Renato Izepp, Vinícius Aguiar e Vitor Julian
- Organização Dramatúrgica | Criação Coletiva
- Provocação Dramatúrgica | Vitor Julian e Eric Lenate
- Dramaturgia de Encenação Virtual | Eric Lenate e Vitor Julian
- Direção | Eric Lenate
- Direção Assistente | Vitor Julian
- Supervisão técnica | Eric Lenate
- Operação técnica | Luís Paulon e Vitor Julian
- Efeitos visuais | Juliana Poggi, Luís Paulon, Michelle Braz e Vitor Julian
- Trilha sonora original e desenho sonoro | L. P. Daniel
- Músicas originais do solo “Verdade Paralela” | Michelle Braz
- Arte gráfica e comunicação digital | Juliana Poggi
- Assessoria de imprensa | Adriana Monteiro – Ofício das letras
- Apoio na comunicação | Bossa Comunicação
- Produção | Letícia Crozara
- Direção de produção | Júlia Ribeiro e Kauê Telloli
- Realização | Inbox Cultural
- Parceria | Sociedade Líquida – Eric Lenate e L. P. Daniel