Eu não tenho vergonha de confessar que já sofri deste mal, é horrível, é igual quem tem filho e fala para quem não tem: “você só sabe como é quando tem” … o corpo não obedece e a cabeça meio que enlouquece com coisas simples e você tem plena coinsciência de quão rídiculo você está, que suas mãos estão suadas mais do que o necessário, que parece que você usou um tablete de becel embaixo do braço ao invés de desodorante.

Tudo começou após esse incidente (clique aqui), ok, tem um problema, tem que ser tratado. Eis que a cunhada da minha irmã, estava preocupada comigo e ficou sabendo de uma índia cherokee que dava um workshop excelente sobre sobrevivência e então resolveu contratar a detentora de saberes espirituais para dar um curso para minha irmã, ela e eu.

Já cheguei no local, em Manhattan – NY, super preocupada, com medo de outro atentado terrorista, mas feliz de saber que iria encontrar alguém que provavelmente iria curar todos os meus medos.

Quando ela chegou, trazia consigo incensos, ervas (não, não era erva para fumar), uns badulaques indígenas e eu me senti totalmente no filme Dança com Lobos. Se ela tivesse pedido para eu ficar andando em círculo como nos filmes de Hollywood eu teria ficado, estava achando aquela experiência nota 1000.

Então, Luna, era o nome dela, achei mais pra índio mexicano do que cherokee, começou a transmitir todo o seu conhecimento, falou um pouco de sua cultura, do fim dos tempos (isso já me assutou, lembre-se que eu não estava bem na época), e que iria nos ensinar formas de sobreviver.

Nos deu uma lista de grãos e carnes secas que deveríamos daquele dia em diante ter dentro da bolsa, caso ocorresse algum atentado e ficassemos presas por exemplo no metrô, teríamos esse alimento que deveria ser comido em pequenos pedaços e escondido, pois a maioria das pessoas que estivessem presas conosco não teriam alimento e poderiam até mesmo nos matar para sobreviver.

Explicou várias outras coisas, eu fazia minhas anotações ao mesmo tempo que pensava : só vou embora daqui se for de táxi, não entro nunca mais no metrô”… eis que Luna começa explicar sobre enlatados, deu a lista de enlatados que deveríamos ter em casa, então ela começou a explicar sobre a água, que seria bom ter galões de água guardados, que iríamos sobreviver assim em caso de algum atentado terrorista mais potente e dependendo da gravidade o tempo que teríamos que ficar isolados (madeiras e pregos seriam necessários para lacra a casa e não deixar ninguém invadir), chegaria um momento que a água acabaria.

Isso tudo foi para explicar que o vaso sanitário é um local se suma importância em uma situação dessas, que se mantivéssemos ele sempre limpo, após acabar toda a nossa água potável, poderíamos então beber a água do vaso.

Sai do workshop pior do que cheguei, só queria andar de táxi, queria ter grãos e carne seca na bolsa naquela hora, olhava para as pessoas como se fossem inimigos, afinal poderiam me matar, já que eles não teriam grãos e carne e fiquei pensando a respeito do vaso, achando aquilo muito estranho.

Quando chegamos na casa da minha irmã, meu marido e meu cunhado perguntaram como tinha sido o curso, quando comecei a ler minhas anotações, eles tiveram uma crise de riso e foi então que eu me dei conta do quão ridículo seria acreditar em tudo aquilo e viver daquela maneira.

Tem cada uma que acontesse com a gente, que contando até parece que foi inventado…

By Veri Serpa Frullani

Veri Serpa Frullani, brasileira, mãe e esposa, atualmente vive em Dubai, já morou em Nova York, São Paulo e Rio de Janeiro. Bacharel em Turismo, produtora multimída, escritora, designer de acessórios, também é editora do Portal Vida Adulta, do Geek Chic e do Firma Produções. Já editou os extintos Brazilians Abroad e Comida Brasileira. Veri Serpa Frullani tem presença e influência na internet desde 1999, já foi colaboradora de vários projetos e sites, entre eles TechTudo, Digital Drops, Olhar Digital e dos extintos Nossa Via e Deusario.

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