“Kanani, eu sobrevivi” conta história de uma sobrevivente de tentativa de infanticídio – prática ainda mantida em algumas aldeias indígenas no Brasil – será lançado no próximo dia 30 de setembro
Produzido pelos cineasta João Luiz de Oliveira, também editor do documentário “Feira de São Cristóvão: O Nordeste é aqui”, estreia na próxima quinta-feira, 30 de setembro, o média-metragem “Kanani, eu sobrevivi” no Canal do documentarista no Youtube.
O documentário registra a história de Kanani Hakani da tribo Suruwahá, no Amazonas, que nasceu com um distúrbio na tireoide que impossibilitava o desenvolvimento da fala e do crescimento em tempo habitual. A doença é, contudo, tratável, principalmente, se diagnosticada cedo.
Quando ficou órfã, aos dois anos, Kanani deixou de ser cuidada pela família e a tribo quis sacrificá-la, considerando que ela não fosse se desenvolver e, portanto, não poderia ser inserida na convivência na aldeia. Contudo, um dos irmãos dela a resgatou e entregou aos cuidados dos etnolinguistas Marcia Suzuki e Edson Suzuki, que atuavam na aldeia na época como missionários e acabaram adotando a criança. Hoje, aos 26 anos, Kanani mora nos Estados Unidos, leva uma vida normal e não apresenta sequelas físicas.
Oliveira explica que em algumas etnias, certas crenças levam a mãe a matar o bebê recém-nascido. “Criança com deficiência física, gêmeos, filho de mãe solteira ou fruto de adultério podem ser vistos como amaldiçoados dependendo da tribo e acabam sendo envenenados, enterrados ou abandonados na selva”, conta.
Atualmente existem cerca de 225 etnias indígenas no Brasil e a prática acontece em pelos menos 13 delas. É uma tradição comum antes mesmo de o homem branco chegar ao país. O média-metragem relata a luta de missionários, indígenas e outros voluntários, fundadores ONG Atini – Voz pela Vida, que tem como objetivo proteger e prover assistência médica e social para as vítimas e apoiar as famílias indígenas contrárias à manutenção das tentativas de infanticídio nas aldeias.
Apesar da Constituição Federal garantir aos índios a proteção de seus costumes e tradições, o texto também preconiza o direito à vida, que deve sobrepor à prática cultural. O Projeto de Lei ( PLC) 119/2015 ), conhecido como Lei Muwaji que pretende erradicar o infanticídio, foi aprovado em duas comissões na Câmara Federal e agora tramita no Senado.