Livro aborda estereótipos de mulheres moradoras de favela e expõe deficiências das políticas públicas nas nas periferias. “Figuras de Causação” traz três estereótipos de mães moradoras das favelas: as novinhas, as nervosas e as que abandonam os filhos
Às margens das insuficientes vagas de creches e escolas fundamentais disponibilizadas pelo poder público, há um sem número de mães que precisam deixar seus filhos com alguém para poderem trabalhar. Esse quadro gera, em especial nas favelas, porá produção de estereótipos aplicados as mulheres pobres, segundo “Figuras da Causação: As novinhas, as mães nervosas & mães que abandonam os filhos”, entre mães chamadas como “novinhas”, as “mães nervosas” e, por fim, as “mães que abandonam os filhos”. Lançado pela Editora Telha, a obra de autoria da antropóloga Camila Fernandes mergulha nesse universo desconhecido e ignorado por muitos.
A obra abre um debate sobre temas como gravidez planejada, planejamento familiar, culpabilização da mulher, sexualidade desviante e noções de cuidado e negligência. Esse “jogo de empurra” que é travado entre sociedade e políticos tenta achar um culpado (ou eleger o menos culpado) onde as mulheres acabam por serem condenadas pela pobreza em que vivem e, assim, isentam os gestores das cidades por suas péssimas administrações e fracasso na gestão de recursos financeiros, em especial aos mais necessitados.
“ Ouvia muitas fofocas e acusações sobre mulheres que ‘transam muito’, tem ‘muitos filhos’ e são ‘irresponsáveis’. Essas fofocas se dirigiam a mulheres identificadas como ‘novinhas’, ‘Mães nervosas’ e ‘Mães que abandonam os filhos’. As mulheres eram retratadas como desequilibradas e provocadoras. Decidi que deveria conversar com as mulheres alvo das fofocas e incluir a perspectiva delas sobre tais acusações. “ – Camila Fernandes, antropóloga e escritora
Camila conseguiu, através do acompanhamento dessas mulheres e de suas histórias, e por meio de uma descrição e análise visceral, transportar para as páginas de “Figuras da Causação” como as relações tensas em mundos marcados pela precariedade, desigualdade e expectativas de gênero se combinam com visões racistas sobre os pobres e seus territórios. O livro procura mostrar o ponto de vista de mulheres retratadas como “desviantes” das expectativas de gênero consideradas positivas em nossa sociedade, a saber: sexualidade planejada e um modelo de maternidade dócil, pacificado e compulsório.
“Figuras da Causação: As novinhas, as mães nervosas & mães que abandonam os filhos” nasce com a missão de jogar luz no conflito silencioso travado entre mulheres mães com dificuldades graves de mobilidade social e gestores públicos que preferem publicizar obras por vezes desnecessárias deixando, de lado, vidas que dependem de amparo social público para terem o mínimo de dignidade e humanidade.
Os “tipos” de mulheres fruto da pesquisa, segundo palavras da autora:
Todas elas são moradoras da favela. Com relação a identificação racial, são mulheres negras (pretas e pardas) e brancas. Segundo o senso comum:
- A “novinha” é afrontosa, transa “”cedo demais” e engravida.
- A “mãe nervosa” é agressiva, descontrolada e não tem paciência.
- Essas duas figuras geram a “mãe que abandona os filhos”, fato que instaura o abandono de crianças.
As figuras da causação são mulheres enquadradas como geradoras de diversos distúrbios e desordens sociais.
Sobre a autora: Camila Fernandes é antropóloga e atualmente desenvolve atividades de pós-doutoramento no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social no Museu Nacional, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGAS/MN/UFRJ), onde também realizou seu doutorado. O mestrado, por sua vez, foi concluído no Programa de Pós-graduação em Antropologia Social da Universidade Federal Fluminense (PPGAS/UFF). Pesquisadora associada ao Núcleo de Estudos em Corpos, Gênero e Sexualidades (NuSex) e ao Laboratório de Pesquisas em Etnicidade, Cultura e Desenvolvimento (LACED), ambos no PPGAS/MN/UFRJ, é docente no Laboratório de Estudos: Feminismos na Diferença
Sobre a Editora Telha: Desenvolvida no Rio de Janeiro, a Editora Telha nasce no fim de 2019 e já alcança, em sua primeira publicação Motel Brasil: uma antropologia contemporânea, de Jérôme Souty, a marca de obra finalista do Prêmio Jabuti 2020. Interdependente (porque independente ninguém é realmente), a Telha surgiu pelo desejo de editar com maior autonomia e criar mais espaço para textos produzidos por autores fora dos grandes centros.
Serviço:
Livro: Figuras da Causação: As novinhas, as mães nervosas & mães que abandonam os filhos
Autora: Camila Fernandes
Editora: Telha
Páginas: 314
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