Romance de estreia da empresária Lúcia “Xuxu” Murad Neffa, “Milagre em Passadouro”, é a saga de pessoas corrompidas pela imoralidade e ganância
Uma cidade perdida no mapa, sem quaisquer atrativos e estagnada pela corrupção de seus governantes e cidadãos, cuja salvação econômica pode residir na sua transformação em polo turístico religioso. Este é o ponto de partida do livro “Milagre em Passadouro”, de autoria de Lúcia “Xuxu” Murad Neffa, empresária, diretora do Grupo Neffa, importante empresa do Espírito Santo, que atua nos segmentos alimentício, hoteleiro e de eventos. O livro será publicado em maio pela Editora Gente.
A história sobre Passadouro do Norte, o pequeno município atrasado que sonha em se tornar conhecido como um lugar que produz milagres é a saga de pessoas corrompidas pela imoralidade e ganância. O protagonista, o pastor José Ribamar, o Riba, dá o tom das personagens imersas em um ambiente envolto em pequenos delitos que fazem de tudo um pouco para se dar bem. Homem reprimido e oprimido pela religião, perdido na mediocridade de um emprego público, Riba, aos poucos, se torna um ambicioso empresário, desvirtuado, enredado em negócios ilícitos.
É Riba, que de maneira torta transformará um reduto recém-inaugurado para servir ao prazer masculino, municiado por prostitutas de um hotel da região portuária local, em um castelo milagreiro. Para isso contará com a ajuda de Meu Rei, o prefeito do município, que atua como um corrupto e corruptor mor na área de jogo de bicho, dando as cartas das negociatas que são realizadas no lugar; e de Seu Mimi, gerente do hotel, acostumado a tirar vantagem da clientela masculina, que se tornará amigo, confidente e fiel escudeiro de Riba.
Também é peça relevante no plano encabeçado por Riba, a beata Vitalina, católica fervorosa, que sobrevive com bicos e embustes. Pela notoriedade da religião que professa em produzir graças divinas, Vitalina acaba ficando responsável pelo milagre que alçará Passadouro do Norte a um novo patamar. E cumpre à risca sua missão ao se deparar, sem querer, com um homem transtornado e transformado pelo amor e pelo sexo.
A mãe de santo umbandista, Teresa, a Tê, fecha a trinca dos religiosos de Passadouro que almejam a grandeza de si próprios e do município onde residem. Assim como os outros, Tê faz das suas para se sustentar financeiramente, mas sua personagem é marcada pela voluptuosidade, sensualidade e pelo espírito livre. Fica na conta da mãe de santo, a homenagem mais clara da autora às mulheres.
Não se pode deixar de destacar ainda as personagens Carol e Sayonara, por quem Riba se apaixona em momentos diferentes do enredo. A primeira se relaciona com um pastor ainda jovem, inexperiente. Frustrada com seu destino, foge sem deixar rastro, sendo a causadora da guinada na história da personagem central. A segunda, prostituta misteriosa, vira de vez a cabeça do pastor já alquebrado pelos revezes da vida, garantindo o desfecho surpreendente da trama
Outras personagens saborosas aparecem no meio do caminho, como o borracheiro Severino. Se ele não serve a propósito de desdobramento mais agudo da trama, simboliza perfeitamente como a corrupção da pequena cidade está entranhada em todos os seus moradores, esperando uma pequena brecha para se mostrar. Preocupado com o baixo número de clientes de sua borracharia, Severino arma um plano, que de fato é um pequeno engodo, para modificar o panorama de escassez. Não apenas consegue mais pneus para reparar, como turbina a economia de todo o município.
A própria autora e sua irmã, Flávia, aparecem na trama, tentando influir em seus desdobramentos, mas sem lograr êxito. Em certo diálogo, a irmã repreende a escritora, preocupada com os rumos da história: “Não tem cabida, Lúcia! Não estou gostando nada nada do desenrolar dos acontecimentos. Por seguro, não creio estar em erro.”. Obtendo uma resposta, na qual fica patente a impotência da autora ante a força das personagens: “Eu, Flávia, afinal quem sou eu para desbotar o triunfo de alguém?! Não me queixo; não queixo. Personagens são indomáveis.”.
Esse artifício exemplifica como Xuxu não preza apenas pelo conteúdo de sua história, mas também pela forma. Além de se colocar como participante do romance – uma personagem que escreve a história enquanto faz parte dela – Xuxu mostra como tem facilidade para lidar com as palavras, das mais rebuscadas as mais simples, tornando explícito que as aulas de português tomadas durante vários anos surtiram bastante efeito. “O livro tem muitas nuances ligadas à gramática, direcionadas a especialistas da área. Contudo, leigos não deixarão de entender o conteúdo por causa do esmero gramatical. Eu procurei misturar a linguagem clássica com a moderna para facilitar a compreensão”, explica Xuxu.
Responsável pela apresentação do livro, o mestre em Linguística pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Doutor pela Universidade de São Paulo (USP), José Augusto Carvalho, já deixa isso claro no início do livro. Ao comparar Xuxu com o renomado escritor português José Saramago, ele diz: “Da mesma forma, não da mesma maneira, o rigor gramatical não impede Lúcia Neffa de renovar a linguagem, misturando com mestria, o clássico com o popular. Assim como aparecem expressões, como ‘está na cara, herói do pedaço, quebrou a cara, viver numa boa, a essa altura do campeonato’, etc., também aparecem construções como ‘o que se não diz, palavras de ordem parecem terem sido, não no ignoro, em obséquio da verdade, por antefim, guardar cautela’, etc.”.
Um livro que preza pelo apuro estético, sem deixar de se fazer entender por todos os leitores. Este é “Milagre em Passadouro”. Palavras rebuscadas e linguagem coloquial se unem para contar uma história, um tanto fantasiosa, mas com as garras fincadas na realidade; de cunho universal, mas muito cara a brasileiros, que não encontrarão nenhuma dificuldade em colocar os personagens do livro em um tempo e espaço bem definidos, qualquer que seja a região do país onde residam.
A paixão pela escrita
A paixão por aprender foi o que levou Xuxu a ser bem-sucedida na vida de empresária. Por esse pendor buscou também o aprimoramento na língua portuguesa. As aulas iniciadas em 2012 deram frutos que, em um primeiro momento, ficaram restritos a ela e ao professor, o doutor da língua portuguesa em análise sintática, Carlos Laet de Oliveira.
Anos mais tarde, veio a vontade de expor o aprendizado, o que culminou na feitura do livro “Sete Pecados Empresariais – Relatos próprios e impróprios de uma herdeira”. A obra, publicada pela Editora Gente, em 2015, narra a cisão societária por qual passou o Grupo Neffa, traçando um paralelo entre os vícios cometidos em uma empresa de caráter familiar e os sete pecados capitais.
A empresária e agora escritora tomou gosto pela arte de escrever e resolveu dar um passo a mais no que havia se proposto. Dessa forma, iniciou seu primeiro romance, Milagre em Passadouro, terminado após 11 meses de labuta.
Integrante da terceira geração de uma empresa familiar de origem libanesa, Xuxu, como gosta de ser chamada, é formada em ciência contábeis e iniciou sua carreira atuando como contadora em uma das mais importantes multinacionais da área. Logo cedo, passou a se dedicar integralmente aos negócios da família, com o sonho de ser uma das sucessoras do legado familiar. Enfrentando uma estrutura por vezes machista, conseguiu, arduamente, descontruir velhos hábitos e modernizar a empresa, que, desde que passou a ser dirigida por ela e outros dois irmãos, cresceu em sete anos o que não crescera em meio século.
MILAGRE EM PASSADOURO
LÚCIA NEFFA
Subtítulo: Três religiosos e uma cidade esquecida por Deus
ISBN: 978-85-9490-047-0
Formato: 16 x 23
Páginas: 144
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Autor: Lúcia (Xuxu) Murad Neffa
Gênero: Ficção / Literatura nacional