Documentário de Ana Maria Magalhães sobre a Mangueira foi laureado com o Prêmio de Melhor Documentário no INYFF – International New York Film Festival, obteve Menção Honrosa no LABRFF – Los Angeles Brazilian Film Festival e Honra ao Mérito no Docs Without Borders Film Festival. Longa revisita amigos de infância que formaram a escola de samba mirim do morro nos anos 1990
Em 1992, a diretora Ana Maria Magalhães realizou o vídeo-documentário Mangueira do Amanhã, que mostra a influência do samba na vida das crianças, a formação da escola mirim e o desfile de carnaval daquele ano. O vídeo documenta a tradição cultural transmitida pelos mais velhos para incentivar as crianças a desenvolverem seu talento.
A ideia de realizar MANGUEIRA EM 2 TEMPOS surgiu nos encontros ocasionais da diretora com Wesley, hoje mestre de bateria da escola, que lhe dava notícias de seus amigos mais próximos. Eram crianças que ela conhecera durante as filmagens do vídeo e com quem estabelecera laços de confiança e amizade. Desde então, Ana Maria se interessou em acompanhar os seus percursos, mas a ideia de continuar a narrativa partiu de Wesley. Naquele período ela achou que ainda era cedo para que as suas histórias de vida pudessem ser vistas em perspectiva. O projeto nasceu vinte anos depois.
A pesquisa foi iniciada pelas entrevistas de Wesley e Danielle e foi com surpresa que Ana Maria soube que as filmagens do primeiro documentário foram os momentos mais felizes de suas infâncias. Na época, ouvir aquele menino magrinho de 12 anos dizer com um brilho no olhar que queria ser músico soou como possibilidade remota. É impressionante ver como ele realizou seu intento chegando ao comando da bateria. Já o Ailton (Buí para os amigos), não poderia imaginar que aquele garoto de seis anos que tocava em lata de óleo vazia, seria percussionista na China.
Mas as histórias de vidas são encobertas pelo contexto social e ao realizar o documentário a diretora foi motivada a revelar a expressão do talento e da criatividade em condições adversas, pelo desejo de ultrapassar as fronteiras da nossa linguagem musical com a fusão de samba, funk e jazz brasileiro. Esses ritmos de origem africana foram executados conjuntamente por instrumentistas de formação tradicional e percussionistas da Mangueira, realçando suas contribuições à nossa musicalidade.
A introdução do funk nos desfiles da Mangueira por um grupo do qual Wesley fez parte sugere a conexão entre samba e funk que têm em comum os 2 tempos da marcação do ritmo. Como expressão universal, a música considera que o encontro entre as diferenças é elemento de desenvolvimento e fator de união.
Ana Maria tem forte ligação com a Mangueira, já que ela participou da comissão de carnaval no ano em que a escola homenageou Tom Jobim e tem amigos na comunidade.
Este é também um filme sobre o Brasil negro representado nas escolas de samba. Seus compositores fizeram história na música popular com canções conhecidas do grande público.
Sinopse: Depois de quase trinta anos, Mangueira em 2 tempos revisita amigos de infância retratados no vídeo “Mangueira do amanhã”, sobre a escola de samba mirim. Suas histórias revelam as circunstâncias brutais da vida dos moradores das favelas do Rio de Janeiro, mas também de seus surpreendentes destinos. Mestre Wesley se inspira na musicalidade local para realizar a carreira de percussionista. A narrativa de sua trajetória explora a conexão entre samba e funk, ritmos marcados pelas batidas em 2 tempos e propõe o diálogo entre o jazz e a percussão da Mangueira.
MANGUEIRA EM 2 TEMPOS
- Brasil, 2019, 90 min
- Produção, Roteiro e Direção: ANA MARIA MAGALHÃES
- Direção de Fotografia: JAQUES CHEUICHE
- Som: TIAGO TOSTES e PEDRO SÁ EARP
- Edição: TERÊNCIO PORTO
- Música Original: FERNANDO MOURA
- Canção: SALA DE RECEPÇÃO, de Cartola, cantada por CHICO BUARQUE
- Produtor de Finalização: ADE MURI
- Produção: NOVA ERA
- Co-Produção: CANAL BRASIL
- Distribuição: ARTEPLEX FILMES
- Entrevistados: MESTRE WESLEY, ÉRIKA, BUÍ DO TAMBORIM, DANIELLE, MICHELE, TATHY
- Participações: ALCIONE e IVO MEIRELLES
MANGUEIRA EM 2 TEMPOS foi patrocinado pelo Banco Itaú, Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro e Secretaria Estadual de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro. O filme estreia nos cinemas das principais cidades brasileiras em 05 de agosto.
Ana Maria Magalhães: Nascida no Rio de Janeiro em 1950, Ana Maria Magalhães atuou em importantes filmes brasileiros: “Como era gostoso o meu francês”, de Nelson Pereira dos Santos; “Lucio Flavio, o passageiro da agonia”, de Hector Babenco e “A Idade da Terra”, de Glauber Rocha.
Sua mais recente atuação foi no filme “O Estranho Caso de Angélica”, do aclamado diretor português Manoel de Oliveira, que foi selecionado para a mostra “Um Certo Olhar” no Festival de Cannes de 2010. Atuou também em novelas de TV como “Gabriela” e “Saramandaia” da Rede Globo.
Como diretora, seu primeiro filme foi “Mulheres no Cinema”, documentário sobre as mulheres cineastas do Brasil. A seguir, realizou o documentário sobre Leila Diniz, “Já que ninguém me tira pra dançar”, uma das primeiras produções independentes veiculadas pela televisão brasileira, e alguns curtas de sucesso, entre eles, “Assaltaram a gramática”. Dirigiu também o longa-metragem “Lara”, cinebiografia da atriz Odete Lara.
Seu filme “Reidy, a construção da Utopia” foi premiado no Festival do Rio (Melhor Documentário de Longa-Metragem) e no Cine Eco Seia (Prêmio Pólis), em Portugal e a série de cinco episódios “O Brasil de Darcy Ribeiro”, recebeu o prêmio de Melhor Série Documental pela TAL TV – Televisión de America Latina, em 2015.