Alguns anos atrás quando via alguns jovens de 15, 18 ou 20 anos com a certeza do que queriam fazer, com um caminho bem traçado, sentia uma inveja considerável. Não a tal da inveja de querer ser aquela pessoa, nada disso. Era uma inveja de ver que como um jovem, tão jovem, já tinha tantas certezas. Sempre acreditei que tinha que ter a mesma visão, começar cedo, ter certezas, saber o que quer ser na vida. E com o passar dos anos, que foram bem rápidos por sinal, vi que definitivamente não fazia parte daquele grupo. E confesso, que durante um bom tempo, fiquei com a impressão que aquela promessa que esperava ser no mundo profissional tinha sido revelado uma grande farsa. Bobeira.
Hoje, com vários anos a frente dos 15 ou 18, vejo que as tais certezas ficaram cada vez mais longe de mim. Hoje, o que vejo com mais clareza é saber o que eu não quero pra mim, o que eu não me vejo fazendo. E isso por si só já é uma coisa boa pra caramba. A tão desejada independência financeira é o ideal de todos nós. Quando era criança ou mesmo um jovem rapaz de 15 anos, acreditava que aos 30 estaria rico, com uma vida profissional super mega estável e vivendo, com muita sorte, um relacionamento afetivo feliz.
O bom da juventude é que a gente realmente acredita nos nossos sonhos. Alguns poucos amigos que conheço conseguiram conquistar uma bela carreira e uma independência financeira cedo, mas a grande verdade é que infelizmente no mundo moderno de hoje, poucos conseguem isso tão rapidamente. E ficar rico, aos 30, nem parando muito tempo pra pensar, consigo ter um exemplo por perto, pelo menos no mundo classe média em que vivo.
Fazer um concurso público é o sonho de 9 entre 10 jovens hoje em dia. Começam cedo a incutir em suas mentes este ideal de vida mais tranqüilo e seguro. E é só olhar em volta e ver a quantidade de gente que batalha por uma vaga neste mercado . A concorrência é enorme e o nivelamento é pra lá de alto. Muito diferente do tempo de nossos pais.
Mas é o ideal ? pra alguns sim, pra outros um verdadeiro martírio.
E vale a pena ? sei lá, cada um sabe o onde o calo lhe aperta. Sem julgamentos, please ! Tento acreditar e trabalhar na minha mente a tal frase que ouvi muito da minha terapeuta durante algum tempo – aquilo que eu penso é igual aquilo que eu falo que é igual aquilo que faço. Essa pra mim é A FRASE. E é claro, que embora a frase seja a idealização do equilíbrio de vida e que serve pra tudo, é muito difícil viver dela. Afinal, se fôssemos viver exatamente da forma que acreditamos, talvez passaríamos por algumas boas dificuldades. E quanto mais velho ficamos, temos a certeza que temos que dançar conforme a música, até porque temos que pagar as contas no final do mês.
A idéia conclusiva disso tudo, se é que existe uma idéia conclusiva pra isso, é que cada um sabe do que é melhor pra si e sabe do que quer ou não pra si. E não existe hora pra isso e nem tempo certo. A sociedade nos aprisiona em modelos pré-estabelecidos e nos pressiona muito cedo a termos definições e certezas. Se você não as encontra logo, provavelmente será taxado de fraco, indeciso ou inseguro.
Muitos se realizam cedo, muitos passam a vida tentando se realizar em alguma coisa. Se você se encontrou cedo, ótimo, mas não significa que possa jogar tudo pro alto e mudar tudo amanhã. E se você não se encontrou ainda, relaxe, busque sempre o que for melhor pra você, dentro de uma realidade plausível, claro, mas não tenha medo de virar a mesa, de ser inseguro, de ser indeciso e de ser fraco a hora que for. Raul já dizia que preferia ser aquela metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo. Eu sigo desta cartilha. Pense, quantas pessoas interessantes que você admira começaram ou recomeçaram suas histórias depois dos 40 , 50 anos? Eu conheço algumas e são bem, bem interessantes.