Na minha vida não tem como recordar algum momento e não ter uma trilha sonora, já que música sempre foi parte integrante, assim como era certo que iríamos comer na hora do almoço era certo que em algum momento (geralmente vários) uma música iria tocar.

Devido a isso, quando puxo na minha memória, consigo me concentrar e ver claramente cenas da minha infância, a trilha sonora daquele momento vem da mesma forma como o cheiro que estava pairando no ar naquele momento.

Durante as viagens de férias, ou finais de semana, quando íamos visitar os avôs, a trilha sonora durante um bom tempo foi dos Saltimbancos, até hoje não sei como aquela fita K7 aguentou, já que escutávamos repetidamente. Meu pai na segunda vez que a vida começava, dava aquela boa respirada, creio eu que contava até 10 mentalmente, e a alegria recomeçava, principalmente para minha irmã, minha prima e eu. Minha mãe sempre nos incentivou a mostrar nossa alegria, a soltar a nossa voz e ela vibrava e cantava com a gente.

Como sempre tive uma mente muito fértil, eu me sentia como se estivesse em um filme de Hollywood sendo filmada enquanto cantava “todos juntos somos fortes, não há nada a perder, ao meu lado há um amigo que é preciso proteger”….

Durante a semana, Elis Regina se soltava na vitrola lá de casa, e na casa da minha tia, então nos finais de semana em que a família era reunida, quando meu avô materno pegava o violão, as próprias crianças já sabiam que músicas pedir, geralmente começávamos com Marambaia, isso mesmo, um bando de crianças felizes da vida cantando “eu tenho uma casinha lá na marambaia fica na beira da praia só vendo que beleza …”, e depois seguiámos com nossos pedidos, era comum um dos pequerruchos dizerem: “- vô, toca Corcovado”…

Ao mesmo tempo em que apreciávamos as músicas de adultos, também adorávamos as músicas de crianças e nesse ponto deve admitir que a minha mãe era excelente, todo vinil que era lançado para crianças ela comprava… e eu me lembro de ficar aos berros na sala de casa:”mamãe os meus sapatinhos como estão velhinhos foi o Charleston…”

Os discos começaram a chegar lá em casa na época do meu irmão, com a coleção do Barbapapa, e foi seguinto com o Sítio do Picapau Amarelo (o auge das festinhas), passando pelos Saltimbancos, todos da Arca de Noé, todos da Turma do Balão Mágico,Menudo, Plunct Plact Zoom, O Cão e a raposa, A Turma dos Patinhos (sempre presentes na hora do parabéns) entre tantos outros…

O tempo foi passando, nós fomos crescendo e como música fazia parte do nosso dia a dia, todas as crianças sabiam cantar e com o tempo começaram a criar suas próprias músicas. Outro dia digitalizei várias fitas K7 da época da infânica, esqueci de mencionar que eu era fissurada em gravar tudo e todos, achava importante gravar os momentos de alegria, e no meio das fitas K7 digitalizadas, tem o primeiro RAP que o meu irmão compôs, na época tínhamos entre 12 e 7 anos, meus irmãos e minha prima participaram da gravação, lembro que foi nas férias de 1988, a gente gravava tanto, cantava tanto, e logicamente que tínhamos que criar os nossos instrumentos musicais, a bateria foi improvisada no sofá de couro da minha avó, no final das férias quando meu pai foi nos buscar, ficou chocado com o estado do sofá, todos levamos o maior esporro, mas ele teve que admitir que as nossas composições e interpretações estavam o máximo… Ok, talvez não estivessem o máximo, mas o nosso orgulho do nosso trabalho artístico estava valendo a pena.

Os anos passaram, de vez enquando eu cantava aqui e ali, e quando casei nunca mais cantei, a não ser no chuveiro… minha irmã canta a todo momento em casa, tem uma excelente voz, minha prima canta em casa e o único que se tornou um músico, compositor, que lança cd, viaja se apresentando, é o meu irmão. Nessa trajetória ele já teve banda de Heavy Metal, grupo de RAP e finalmente se encontrou fazendo o que gosta e o que é modéstia parte extremamente bom, Regga-Ragga-Dancehall.

Aos 30&Alguns noto claramente a diferença entre as pessoas que cresceram rodeadas de música e os que não tiveram a mesma oportunidade. Em uma casa onde tem música tocando, tem pessoas cantando, dançando, batucando, interagindo. Devo muito do que sou a esse ambiente mágico que tive na minha infância, por isso que digo que tenho uma trilha sonora muito viva em minha mente, lugares, pessoas, situações, sempre que chegam na minha memória chegam acompanhados de música…

By Veri Serpa Frullani

Veri Serpa Frullani, brasileira, mãe e esposa, atualmente vive em Dubai, já morou em Nova York, São Paulo e Rio de Janeiro. Bacharel em Turismo, produtora multimída, escritora, designer de acessórios, também é editora do Portal Vida Adulta, do Geek Chic e do Firma Produções. Já editou os extintos Brazilians Abroad e Comida Brasileira. Veri Serpa Frullani tem presença e influência na internet desde 1999, já foi colaboradora de vários projetos e sites, entre eles TechTudo, Digital Drops, Olhar Digital e dos extintos Nossa Via e Deusario.

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