Um novo estudo constatou que as crianças que convivem com pessoas preconceituosas, mesmo que tenham experiências positivas em relação a um grupo de pessoas, tais experiências valem menos do que as idéias negativas que elas estão acostumadas a escutar em seu convívio, principalmente quando os pais são os responsáveis por tais ensinamentos.
Crianças desenvolvem uma compreensão de preconceito e discriminação de uma forma bastante previsível, entre os três e seis anos de idade, começam a entender e usar estereótipos. Após os seis anos de idade, as crianças começam a entender os estereótipos das outras pessoas, e no primeiro ano do ensino fundamental, começam a compreender que a discriminação de gênero ou raça é moralmente errada.
Em um teste, os pesquisadores perceberam que os alunos da primeira série, quando eram informados por um adulto que determinado grupo de crianças era “má” passavam a avaliá-los negativamente, mesmo que a interação com os mesmos fosse positiva. Já no quinto ano do ensino fundamental, as crianças passavam a depender mais de suas próprias experiências com as outras crianças consideradas “más” para então julgá-las.
Como as crianças mais velhas são mais influenciadas por suas próprias experiências, a melhor forma de trabalhar questões de preconceito, de igualdade e diversidade é criando situações e ambientes que promovam experiências positivas entre as crianças de todas as origens.
Para descobrir como as crianças sintetizam essas informações, os pesquisadores da Universidade de Toronto Scarborough realizaram dois estudos. No primeiro, informaram a 161 crianças do primeiro, terceiro e quinto ano do ensino fundamental que eles estavam indo jogar um jogo no qual eles tanto estariam na equipe vermelha ou na equipe azul, quando na verdade, todas as crianças foram designadas para fazerem parte da equipe vermelha, não havia equipe azul.
As crianças receberam três copos vermelhos e três copos azuis e foram informadas que poderiam colocar até 10 adesivos ou doces em cada copo e que tudo que estivesse no copo ficaria com elas. Em seguida, algumas crianças foram informadas que as crianças do time azul eram sempre más com as crianças do time vermelho. Outras crianças não foram informadas de nada, mas receberam seus copos vazios, aparentemente de um integrante da equipe azul. Um terceiro grupo foi avisado que as crianças da equipe azul eram malvadas e que estavam dando os copos vazios.
Após o teste, as crianças foram convidadas a responderem uma série de perguntas sobre como se sentiam em relação à equipe azul. Os resultados revelaram que os alunos da primeira série que tiveram uma experiência em primeira pessoa negativa com um membro da equipe azul – o copo vazio – avaliaram o time azul de forma mais positiva do que se tivessem sido informados de que as crianças da equipe azul eram más. As crianças com seis e sete anos de idade deram um valor maior a palavra de um adulto do que a sua própria experiência desagradável. Naturalmente, os que ouviram coisas ruins a respeito da equipe azul e ainda receberam um copo vazio deram ao time as piores classificações possíveis.
Em um segundo estudo, os pesquisadores decidiram descobrir como as crianças se sentiam a respeito de uma criança que não fizesse parte do seu grupo através da declaração de um adulto que não correspondesse as suas experiências. Com um novo grupo de 148 crianças, os pesquisadores repetiram o primeiro teste, desta vez, alguns dos participantes foram informados que as crianças da equipe azul foram más ao receber um “prêmio” generoso de um membro da equipe azul, enquanto outros disseram que as crianças da equipe azul foram simpáticas mesmo quando receberam um copo vazio.
Mais uma vez, os alunos da primeira série confiaram mais no que os adultos disseram do que na sua própria experiência, classificando negativamente os membros da equipe azul quando ouviram alguma coisa desagradável sobre eles, independente de terem recebido um presente generoso ou não. Já os alunos do quinto ano, a experiência positiva superou a avaliação negativa feita pelos adultos, e as crianças melhoraram a sua visão dos membros da equipe azul com base no prêmio generoso.
Isso na verdade mostra o quanto influenciamos as idéias, expectativas e visões dos nossos filhos, ou qualquer criança com que tenhamos contato podendo moldar nelas expectativas de preconceito e estigma.
Segundo um dos pesquisadores os alertas negativos sobre a discriminação na infância pode não ser uma boa idéia, em vez disso, professores e pais devem se concentrar nos aspectos positivos da diversidade.
Muitas vezes fazemos comentários ou escutamos em rodas de amigos comentários que necessariamente não consideramos preconceituosos, mas ao colocar o que foi dito em outro contexto, com outros grupos, pode ser considerado muito negativo. Se percebermos que o aquilo que foi dito em nosso grupo íntimo não deveria ser dito em ouros grupos, isso já é um indicativo que algo preconceituoso está implícito.
Na nossa cultura é normal grupos de amigos heterossexuais “brincarem” em relação principalmente aos meninos, com as mães para terem cuidado para não criar o menino cheio de dengo a ponta de “virar gay”.
É comum adulto das classes A e B, não conviverem muito com negros a não ser babás, domésticas, porteiros e motoristas e fazerem comentários quando estão com seus amigos e parentes que podem ser interpretados de forma extremamente preconceituosa pelas crianças que estão por perto.
Assim como muitas vezes escutamos “gordo nojento”, “japonês tem pênis pequeno”, entre tantos outros comentários preconceituosos, que quem diz, muitas vezes nem mesmo consegue ver o preconceito embutido.
Fica a dica para todos pensarem e repensarem antes de fazer comentários a respeito de outras pessoas e/ou grupos quando estiverem próximos a uma criança. É difícil, mas se não começarmos a tentar, não podemos esperar que no futuro haja uma maior aceitação da diversidade.
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