*Alberto Jorge Guimarães

No palco, duas figuras centrais em total sinergia. Os flashes são insistentes e a plateia assiste ao espetáculo que emociona até mesmo os mais céticos: o encontro entre mãe e filho, que, mesmo juntos desde o momento da concepção, jamais se viram e nunca se tocaram. O nascimento é um marco na vida de ambos e estudos comprovam que a nossa capacidade de amar se relaciona com a percepção de mundo que temos ao nascer.  E você sabe o porquê?

Durante a gestação, a mulher opta pelo tipo de parto que trará seu filho ao mundo, mas muitas delas não são conscientes desta escolha. O fazem por medo, pressão e até por ignorarem os benefícios do trabalho de parto no nascimento da criança.

Segundo Organização Mundial da Saúde, o Brasil é o país onde mais se realizam cesáreas no mundo. As taxas chegam a 84% no sistema privado e a 40% no SUS — o recomendado pela OMS é 15%.

O que muita gente desconhece são as vantagens que um parto normal pode trazer ao bebê e a mãe. Estudos comprovam que as chamadas “cesáreas eletivas” são as que representam maior risco. Nesse tipo de parto, a mãe agenda o dia do nascimento e o bebê nasce sem que ela entre em trabalho de parto, o que pode causar problemas de saúde, principalmente respiratórios, na criança. No decorrer da história, o processo fisiológico do parto natural sempre foi visto como dolorido e sofrível, fazendo com que a mulher tivesse uma visão distorcida em relação ao nascimento. Mas afinal, dá para reverter este quadro?

Embora todos saibam que a fisiologia do parto envolve uma experiência corporal intensa, é possível encará-la com prazer e alegria, desfazendo-se de mitos que deixam a cabeça da mulher em polvorosa. Claro que não é de uma hora para outra que a mulher vai deixar de ter medos, afinal, tratando-se do desconhecido, é natural que todo o processo faça com que ela sinta-se amedrontada, mas tudo fica bem mais difícil se a mulher não se informa e acata tudo o que ouve por aí.

Para começar, a ocitocina – o hormônio que estimula as contrações do útero durante o parto e a expulsão – está presente na lactação, é responsável pelo ato sexual e é um dos grandes responsáveis pela sensação de emoção que a mamãe sente ao pensar no seu bebê. Ela também auxilia na maturação pulmonar, grande conjunto químico de hormônios que produzem o leite.

Aquelas contrações que na hora parecem indesejáveis, estão só preparando o corpo para uma série de transformações que não culminam com o nascimento. Muitos hormônios liberados pela mãe e bebê durante o parto estão fortemente presentes na primeira hora de vida posterior ao nascimento, quando a mãe e filho se reconhecem, formando uma sinestesia perfeita, cada qual embebido em fluidos naturais que excitam sua capacidade de amar.   Isso mesmo: o “hormônio do amor” é até absorvido pelo bebê através da amamentação.

Portanto, quando for parar para pensar no tipo de parto, lembre-se de que é possível vivenciar este momento pelas vias naturais, permitindo que o corpo trabalhe de forma que a natureza o programou: certamente, uma sucessão de acontecimentos culminará na melhora da relação afetiva entre mãe e filho. Mas estes só acontecerão se a mãe estiver consciente de sua responsabilidade em todas estas ações.  Pense nisso!

*Alberto Guimarães é médico, ginecologista e obstetra pela Faculdade de Medicina em Teresópolis (RJ) e mestre pela Escola Paulista de Medicina, UNIFESP. Defensor dos conceitos de Parto Humanizado e fundador da Parto Sem Medo

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