Qunado eu era mais nova, por volta de 7 anos até uns 12  eu achava que tudo no nordeste era um atraso só, muito provavelmente porque a visão que uma criança de classe média criada em São Paulo/Rio, tem dos nordestinos é muitas vezes ligada ao seu universo mais próximo, o que no meu caso, eram geralmente as empregadas domésticas, sendo assim como tivemos até mesmo uma que ao tentar comer com o garfo acabou partindo o mesmo ao meio de tanto nervosismo ou sei lá o que, achava que tudo lá pra cima do Brasil era puro atraso.

Essa concepção mudou quando em 1987 eu conheci uma das minhas melhores amigas, uma pernambucana que havia mudado para o Rio de Janeiro. Eles eram completamente diferente dos nordestinos que eu havia conhecido anteriormente. Seu pai era diretor de banco, sua mãe dona de casa, muito culta, moravam em um apartamento maravilhoso e apesar de falar das diferenças entre o Rio e Pernambuco,  minha amiga sempre que podia ia em shows e peças de teatro, dizia que aqui tínhamos muitas opções, o que não ocorria por lá. Essa família modificou a minha visão do povo nordestino.

Na verdade comecei a escrever esse post, pois ia falar que algumas coisas que continuam atrasadas pelos lados de lá. Meu marido esteve algumas semanas em Fortaleza e infelizmente por lá, Nextel não funciona, eu jamais iria imaginar… por lá se você tentar enviar um Sedex 10, o correio irá te informar que o único sedex que você vai conseguir enviar é o normal e ainda pode demorar mais de 24 hs …. lá se você pedir mate leão no restaurante provavelmente eles não vão ter, você provavelmente irá encontrar apenas e talvez no supermercado, mas eles tem uma outra bebida que nunca vi aqui no Rio, mate guaraná…

Sinceramente o que mais me incomodou foi não funcionar nextel, você não poder falar via rádio, em uma capital de um estado nordestino onde existe muito turismo (infelizmente de todos os tipos)… sei lá, de repente vocês leitores vão achar normal, mas eu fiquei meio que achando um atraso o que me remeteu ao início do texto.

Como disse anteriormente, comecei escrevendo para falar sobre essas pequenas coisas que fazem parte do dia-a-dia de quem mora em Sampa ou no Rio e que não tem em outras capitais do país, mas com o desenrolar do texto, também percebi como é fácil a gente criar estereótipos e acreditar que um grupo de pessoas é aquilo e ponto final, pelo simples fato do que vemos e convivemos diariamente.

Por exemplo, nas classes A e B quase não tem negros, mas os negros “fazem parte” da vida dessas famílias seja como babá, motorista, pedinte no sinal… essas crianças, aliás muitas delas só vão ter um “contato” com um negro que faz parte das classes A e B através da TV, assistindo jogos de futebol, shows, programas de calouros… enfim, assim como eu tinha uma visão dos nordestinos muito peculiar, milhões de crianças brancas no Brasil inteiro, tem uma visão extremamente negativa dos negros.

Aos 30&Alguns em um país com tanta desigualdade social, vejo que acabar com o preconceito ou com o racismo é uma missão quase que impossível, um cresce vendo o outro em “situação de  inferioridade” e aí sim fica difícil até o momento em que você começa conviver  “de igual” com alguém do outro grupo, como todos somos iguais. No mundo atual teria que re-escrever essa frase: “no mundo atual todos com a mesma quantidade de dinheiro são quase que praticamente iguais”. Deu pra entender?

By Veri Serpa Frullani

Veri Serpa Frullani, brasileira, mãe e esposa, atualmente vive em Dubai, já morou em Nova York, São Paulo e Rio de Janeiro. Bacharel em Turismo, produtora multimída, escritora, designer de acessórios, também é editora do Portal Vida Adulta, do Geek Chic e do Firma Produções. Já editou os extintos Brazilians Abroad e Comida Brasileira. Veri Serpa Frullani tem presença e influência na internet desde 1999, já foi colaboradora de vários projetos e sites, entre eles TechTudo, Digital Drops, Olhar Digital e dos extintos Nossa Via e Deusario.

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