Professor de Literatura ressalta como Quino, o criador de Mafalda soube traduzir os anseios da humanidade em imagens e palavras
No dia 30 de setembro de 2020, o mundo ficou mais triste com a perda do cartunista argentino Quino, que encantou nações com a criação de uma menina, conhecida por enxergar a humanidade melhor que os adultos: Mafalda. Por meio de sua obra, que estreou no dia 29 de setembro de 1964, em uma revista argentina chamada Primeira Plana, ele soube distribuir sabedoria em imagens.
Não é à toa que, logo após a sua estreia, não demorou muito para que as tirinhas de Mafalda ultrapassassem fronteiras e ganhassem espaço em jornais de todo o mundo, sendo traduzidas em mais de 30 idiomas e tornando Quino o mais internacional cartunista de língua espanhola. Embora ele tenha decidido parar de desenhar a personagem em 1973, suas tiras seguiram nos cativando, o que mostra como ele já pensava à frente do seu tempo, com reflexões que servem, perfeitamente, para o mundo de hoje.
Por falar em reflexão, foi, justamente por meio da Mafalda, que o professor e doutor em Literatura pela USP, Jack Brandão, levou seus alunos a analisarem a relevância de pensar no outro, na diversidade e no mundo, de modo geral, despertando a consciência de valorizar o próximo.
Para o professor, Quino foi magistral ao produzir uma obra em um período marcado pela Guerra Fria, pelas ditaduras, de modo especial na América Latina, e por tantas incertezas do que estaria por vir, provocando uma grande reflexão a respeito de tudo isso. “Trata-se de um ser humano belíssimo que soube traduzir os anseios da humanidade em palavras e imagens”, ressalta Brandão, que também é diretor do Centro de Estudos Imagéticos CONDES-FOTÓS e pesquisador sobre a influência da imagem na sociedade.
De acordo com o diretor, poucas pessoas possuem o poder de concisão em relação às palavras. “Um exemplo é quem escreve poesia, como o Haikai, estrutura poética japonesa composta por três versos. Para escrevê-lo, é necessário ter uma excelente capacidade de concisão. Quino, por sua vez, não escrevia Haikai, mas conseguia alinhar, em linhas simples, palavras extremamente fortes e ácidas que servem para nós, nos dias de hoje”.
O pesquisador considera o cartunista “um revolucionário sem armas” e analisa algumas de suas tiras a fim de ressaltar tal afirmação.
Texto escrito por Mariana Mascarenhas Jornalista e pesquisadora do CONDES-FOTÓS