O médico endocrinologista, especialista em emagrecimento, Rodrigo Bomeny, destaca a apneia como um dos fatores que levam a baixa qualidade do sono e consequentemente ao ganho de peso
É comum ouvir pessoas dando conselhos de que para conseguir conquistar qualquer objetivo de vida é necessário se privar de algumas horas de sono. “Você tem a vida inteira para dormir”, dizem. Assim, o sono virou sinônimo de perda de tempo. Entretanto, é sabido cientificamente e por experiência que a falta do sono reparador influencia e muito a nossa saúde. Por exemplo, um sono de baixa qualidade está diretamente associado ao ganho de peso e à obesidade
De acordo com o médico endocrinologista, especialista em emagrecimento, Rodrigo Bomeny, a baixa qualidade do sono está ligada ao ganho de peso sobretudo devido ao estresse e as mudanças hormonais que aparecem após a privação do sono. No Você+, método de acompanhamento multidisciplinar desenvolvido por Bomeny que foca no desenvolvimento de 5 níveis considerados essenciais para a mudança do estilo de vida e emagrecimento, o médico trata mais a fundo essa relação entre sono e obesidade.
Quando alguém dorme mal repetidamente o corpo reage entrando em um estado de estresse crônico, como se estivesse passando por um grande período de dificuldade, ao qual alguns mecanismos de funcionamento do organismo necessitam se adaptar. Assim, diversos níveis hormonais se modificam e também marcadores inflamatórios.
Bomeny explica que um dos principais hormônios que é hiperestimulado quando o corpo sente estresse crônico é o cortisol, que em excesso aumenta o risco de diabetes, hipertensão arterial, entre outros. “Uma única noite de privação de sono pode aumentar os níveis de cortisol em mais de 100%”, diz o médico endocrinologista, complementando que a restrição de sono a 4 horas por dia em pessoas saudáveis resulta em diminuição de 40% na sensibilidade à insulina, que, por consequência, eleva o risco de desenvolvimento do diabetes tipo 2.
Em um quadro de estresse agudo, onde há uma iminência de perigo, por exemplo, o corpo reage, costumeiramente, com perda de apetite. Mas em um quadro de estresse crônico, que é aquele provocado pela falta de sono recorrente, o contrário pode ocorrer. Compreendendo que se trata de uma situação com a qual terá que lidar por muito tempo, em que haverá a necessidade do emprego de muita energia para sobreviver, o corpo não apenas reage aumentando o apetite e desejos por alimentos hipercalóricos, como também passa a estocar suas reservas de energia com mais facilidade. Ou seja, a chance de ganhar peso e acumular gordura se torna muito maior.
Segundo o especialista em emagrecimento, isso ocorre porque hormônios essenciais para o controle da gordura corporal, tais como leptina, grelina e GH, têm a secreção alterada por distúrbios do sono.
O estresse crônico gerado pela baixa qualidade de sono também prejudica o sistema executivo cerebral, impedindo as pessoas que dormem pouco de tomarem decisões racionais em relação à alimentação, levando-as muitas vezes a ceder a um impulso. A falta de julgamento claro gerada pelo cansaço extremo pode fazer com que alguém que esteja em dieta fique menos atento às sinalizações do próprio corpo, fique menos racional na sua relação com a comida e comece a consumir de forma mais impulsiva, dando preferência aos alimentos mais calóricos e mais ricos em carboidrato e açúcar.
Apneia do sono
Um sono de baixa qualidade ocorre por diversas razões, desde hábitos ruins, como comer bastante poucas horas antes de dormir até preocupações reais que fazem com que a pessoa fique se revirando na cama sem conseguir relaxar e fechar os olhos. Um dos fatores de ordem física que podem tornar a experiência do sono desastrosa é a hipopneia ou apneia do sono.
Conforme Bomeny, a hipopneia ocorre quando, por um grande estreitamento da passagem de ar da via aérea pérvia, uma pessoa apresenta redução parcial do fluxo de ar, com queda na saturação do oxigênio, levando a micro despertares durante o sono. Já a apneia se caracteriza por uma parada completa da passagem de fluxo aéreo por pelo menos 10 segundos durante o sono. “Um quadro mais grave é a síndrome da apneia obstrutiva do sono, quando a pessoa possui no mínimo cinco episódios de apneia ou de hipopneia a cada hora de sono associada a um quadro de sonolência diurna”, explica.
O especialista em emagrecimento destaca que obesos têm maior prevalência e maior gravidade de apneia de sono. Conforme Bomeny, cerca de 55% a 60% das pessoas com obesidade mórbida sofrem de síndrome da apneia obstrutiva do sono e a prevalência da síndrome aumenta com o IMC maior.
Entre as causas reside o fato de os obesos possuírem uma camada adiposa cervical muito maior do que os demais, que acarreta obstrução do fluxo de ar durante à noite, quando ocorre o relaxamento da musculatura da orofaringe e desabamento dessa camada cervical de gordura. “Sabe-se que quanto maior a quantidade de gordura cervical, quanto maior a circunferência cervical, maior o risco de desenvolvimento de apneia do sono e maior a gravidade”, afirma o médico endocrinologista.
Outra razão, segundo Bomeny, é que pessoas com obesidade tendem a acumular líquido, apresentando edema (inchaço) generalizado, inclusive na mucosa faríngea. Além disso, pacientes com quadro de obesidade visceral podem, em decorrência da compressão da gordura abdominal, desenvolver um efeito restritivo do pulmão.
O médico endocrinologista faz questão de destacar a importância da perda de peso para o tratamento da síndrome de apneia obstrutiva do sono. “Quando a causa é a obesidade e o excesso de gordura cervical ou o próprio edema, uma perda de peso de 10% já reduz em média 50% do número dessas hipopneias e apneias”, afirma.
Emagrecer é o melhor tratamento para evitar a apneia e assim conseguem ter um sono de melhor qualidade. No entanto, Bomeny recomenda algumas medidas comportamentais que podem ajudar no processo, tais como: evitar o consumir álcool, fumo, bebidas com cafeínas e grandes refeições durante as quatro horas que antecedem o sono.
Sobre Rodrigo Bomeny – Especialista em emagrecimento, Rodrigo Bomeny é graduado em Medicina pela Universidade de São Paulo (USP), com residência em clínica médica e em endocrinologia e metabologia pela mesma instituição de ensino.