Eu tenho lá meus problemas em relação ao transporte coletivo e quem lê o blog sabe disso, mas devo admitir que várias cenas, situações e conversas bizarras e até mesmo interessantes, acontecem dentro do transporte coletivo ou até mesmo táxi (sinceramente não sei se o táxi faz parte do termo transporte coletivo).

De qualquer forma descobri em algumas dessas indas e vindas, de ônibus e táxi, daqui-ali, que tenho “cara” de confessionário, psicóloga, psiquiatra ou algo parecido.

Há mais ou menos uns 2 meses atrás, indo para o trabalho, estava eu, quieta, sentada no banco no ponto de ônibus, esperando pelo dito cujo. Eis que senta ao meu lado um menino (devia ter uns 12-13 anos) com síndrome de down e pergunta o meu nome.

Quem me conhece muito, sabe que eu sou simpática, mas quem me conhece pouco ou me vê pela primeira vez, acha que eu sou meio séria, meio na minha, isso porque primeiro eu analiso tudo e todos e depois mostro o meu lado feliz de ser.

Voltando ao menino, eu toda séria, respondi e dei um sorriso, o ônibus chegou, eu sentei em um banco e ele e a mãe sentaram no banco da frente. A mãe muito simpática resolveu puxar um papo, sei que no final, em um trajeto de uns 20 minutos, eu já sabia que ela havia saído para comprar sapatos para os dois e roupa para ele, pois tinham um casamento em Curitiba, que os sapatos no centro da cidade, estão mais caros do que na zona sul, que a roupa dela, ela mesma iria fazer, pois era costureira, a roupa dele ela havia comprado no centro mesmo, pois achou por um preço bem em conta. Ainda me mostrou a sandalha que ela havia comprado e o sapato social que ele iria usar. Irião viajar a noite e ficarião em um hotel.

Na hora de descer do ônibus, descemos no mesmo ponto, para a minha surpresa ela falou: “- Olha Veridiana, eu moro aqui tá?”.

O tempo todo eu apenas concordava e balançava a cabeça, não havia muito que falar.

Semana passada, fui trabalhar, entrei no ônibus, estou sentada, quieta no meu canto, quando passa uma moça pela roleta, paga com uma nota de 10 reais e a cobradora informa que não tem troco, que já tem 2 pessoas na fila na frente dela esperando troco para nota de 10.

Ela então senta-se ao meu lado, procura, procura, procura, até encontrar várias moedas somando 2 reais, paga e pega os 10 de volta, vira pra mim e diz: “- é um absurdo eles não terem troco”.

Eu, educamente, olho pra ela, balanço a cabeça e digo que concordo. Então ela vira e diz que identifica facilmente quem não presta e que tinha ido muito com a minha “cara”. Que era babá e puxa um álbum de fotos, com as fotos do bebê e dos pais, me conta que tirou férias e ficou um mês na Bahia, que a patroa ligava toda semana e perguntava se ela estava namorando, no final ela disse para a patroa que tinha 2 namorados, um para durante a semana e outro para finais de semana.

Me perguntou se eu era evangélica, aí pensei, lá vai ela começar a pregar aqui, informei educamente que era católica, e ela me disse que era espírita (Alan Kardec), eu informei que conhecia várias pessoas espíritas, então ela começou a me sugerir livros e disse que certa vez conheceu uma moça no ônibus e se tornaram amigas, isso já fazia anos. (Nessa hora pensei, só falta ela pedir o meu telefone) .

No final ela muito simpática, me disse que todos os dias, antes de sair de casa, que eu agradecesse sempre a Deus pelo dia maravilhoso, mesmo que eu estivesse triste ou o dia nublado. Achei bem legal, nos despedimos, ela desceu, segui com o ônibus e pude ver uma mão (ao longe) acenando para mim.

Essa semana, peguei um táxi, o taxista gente boa, começou a sugerir o caminho mais rápido, já que estava caindo um pé d´água e começou a conversar pois ele passou com o carro em um buraco e havia soltado alguma peça, então começou a me explicar que se  tivesse tempo, iria mobilizar a população para todos juntos entrarem com uma ação contra o estado, que todos os impostos deveriam ser pagos em juízo, que pagamos por um serviço que não nos é prestado e assim como quando compramos algo e recebemos outra coisa entramos com uma ação no Procon,  se ele tivesse tempo iria bolar esse movimento.

No final não pude me conter, ele me disse que se conseguisse fazer isso, teria que comprar um colete a prova de balas e contratar alguém para experimentar a sua comida, pois com certeza alguém tentaria matá-lo para silenciá-lo.

As 30&Alguns, vejo que ainda tem muitas pessoas que acreditam no próximo, pois se abrem, contam a vida para um total estranho e que eu tenho “cara” de ser alguém bem mais simpática do que eu imaginava.

By Veri Serpa Frullani

Veri Serpa Frullani, brasileira, mãe e esposa, atualmente vive em Dubai, já morou em Nova York, São Paulo e Rio de Janeiro. Bacharel em Turismo, produtora multimída, escritora, designer de acessórios, também é editora do Portal Vida Adulta, do Geek Chic e do Firma Produções. Já editou os extintos Brazilians Abroad e Comida Brasileira. Veri Serpa Frullani tem presença e influência na internet desde 1999, já foi colaboradora de vários projetos e sites, entre eles TechTudo, Digital Drops, Olhar Digital e dos extintos Nossa Via e Deusario.

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