Um estudo realizado no Reino Unido sugere que o aprendizado dos bebês está diretamente relacionado ao sono
A Dra. Ana Jannuzzi, médica pós-graduada em Pediatria e sono infantil, explica que, por meio de tecnologia avançada, foi possível analisar o cérebro dos recém-nascidos e correlacionar as diferentes fases do sono.
Durante os primeiros meses de vida, os bebês dormem bastante, com padrões de sono que variam entre 10 e 18 horas por dia, sem muita distinção entre o dia e a noite. No entanto, pesquisadores do Reino Unido descobriram que os dois períodos de sono identificados nos recém-nascidos desempenham um papel fundamental no reconhecimento de pessoas e espaços, além de promover ajustes no funcionamento de regiões cerebrais de forma individual. Essa descoberta, publicada recentemente no periódico científico NeuroImage, oferece pistas sobre a razão pela qual os bebês dormem mais e como eles aprendem.
Segundo a Dra. Ana Jannuzzi, especialista em sono infantil, o sono dos recém-nascidos pode ser classificado em sono ativo e sono tranquilo. O ativo, também conhecido como sono REM, é caracterizado por movimentos oculares e dos membros, enquanto o tranquilo se assemelha ao profundo dos adultos. O estudo com essa tecnologia avançada, que permite analisar a hemodinâmica de cada área do cérebro e correlacionar com a fase do sono em que a criança se encontra, é extremamente valioso, já que é desafiador realizar essas análises de forma convencional em bebês recém-nascidos.
A Dra. Ana Jannuzzi ressalta que o ativo, que corresponde a aproximadamente 70% do tempo total de sono dos recém-nascidos, desempenha um papel crucial no desenvolvimento cognitivo. Durante o sono ativo, ocorre uma integração cortical mais evidente, de acordo com estudos anteriores em diferentes faixas etárias. Esse período é essencial para a consolidação das memórias e a formação de conexões cerebrais. Essas conexões entre conhecimentos são fundamentais para o desenvolvimento cognitivo do bebê.
O sono dos recém-nascidos permite que eles reconheçam pessoas e espaços, além de ajustar o funcionamento do cérebro. Estudos de eletroencefalografia (EEG) revelaram diferenças nas dinâmicas funcionais durante as fases do sono ativo e do tranquilo. Para monitorar e identificar essas fases, os pesquisadores britânicos utilizaram um equipamento inovador desenvolvido pela Universidade de Cambridge. Esse sistema, semelhante a uma touca de natação, produz imagens cerebrais com alta resolução. Os bebês foram monitorados enquanto usavam a touca, e os dados foram posteriormente comparados.
De acordo com o estudo, foram observadas diferenças no cérebro durante as fases de sono ativo e do tranquilo. Durante o ativo, os bebês ficaram mais inquietos, com estímulo nas regiões dos hemisférios direito e esquerdo do cérebro de forma simultânea e consistente. Além disso, foram identificadas a formação de novas e longas conexões em toda a estrutura cerebral. Já durante o tranquilo, as conexões cerebrais foram observadas como mais curtas.
Assim, o estudo conclui que o ativo desempenha um papel crucial no reconhecimento de pessoas e espaços pelos bebês, enquanto o tranquilo é responsável por ajustar o funcionamento individual das regiões cerebrais.
Essas descobertas têm o potencial de abrir caminhos para o desenvolvimento de técnicas de aprimoramento para recém-nascidos prematuros. O design da touca utilizada no estudo foi cuidadosamente planejado para não incomodar o bebê e permitir que ele seja facilmente transportado, possibilitando que o monitoramento ocorra enquanto o bebê está ao lado de sua mãe no berço. Isso pode facilitar o monitoramento de recém-nascidos vulneráveis, como os prematuros internados em unidades de terapia intensiva.
O estudo britânico mostra a relação entre o sono dos bebês e seu aprendizado. O sono ativo desempenha um papel fundamental no desenvolvimento cognitivo, permitindo a consolidação de memórias e a formação de conexões cerebrais. Por outro lado, o tranquilo ajusta o funcionamento das diferentes regiões cerebrais de forma individual. Essas descobertas são promissoras e abrem portas para futuras pesquisas e avanços no cuidado com os recém-nascidos, especialmente aqueles que necessitam de cuidados intensivos.