“Kwanzaa – uma comemoração afro-americana que vai de hoje, 26 de dezembro a 1º de janeiro, que envolve a reflexão sobre sete princípios básicos, a valorização da comunidade, das crianças e da vida. Está lentamente se espalhando pelos Estados Unidos, Canadá, Inglaterra e Caribe e já se pode enviar cartões aos amigos desejando-lhes “Happy Kwanzaa!” Achei muito curioso e resolvi pesquisar.

Ela é uma palavra suaíli, uma língua banta, oficial do Quênia e da Tanzânia, língua nacional da República Democrática do Congo (antigo Zaire) e segunda língua corrente em Burundi, Ruanda e Uganda. Kwanza é o principal rio de Angola e cuanza é a sua moeda e unidade monetária. Mas Kwanzaa é muito mais do que isso e ninguém por aqui a quem eu perguntei conhece.

A palavra significa “o primeiro, no início” ou, ainda, “os primeiros frutos”, e pertencem a tradições muito antigas das celebrações das colheitas na África. E foi ela a escolhida, por todas as suas importantes significações e tradições, para representar esta celebração construída, inventada, por um único homem, 34 anos atrás. Maulana Karenga é um professor e ativista negro (me perdoem mas não consigo dizer afro-americano por absoluto pavor de que um dia alguém me chame de “euro-brasileiro”, em absoluto desrespeito a uma importante parcela do meu sangue e da minha cultura), atual diretor do Departamento de Estudos Negros da Universidade da Califórnia. Toda a celebração e todos os rituais da Kwanzaa foram concebidos após as famosas e terríveis revoltas de Watts, em 1966. Ele buscou em remotas tradições africanas valores que fossem cultivados pelos negros americanos naqueles terríveis dias de lutas pelos direitos civis, de assassinatos de seus principais líderes e que, não sendo religiosos, pudessem atrair – como atraíram – todas as igrejas de todas as comunidades negras em todo o país e, no futuro, pelo mundo afora. Karenga organizou a Kwanzaa em torno de 5 atividades fundamentais, comuns às celebrações africanas da colheita das primeiras frutas:

· a reunião da família, de amigos, e da comunidade;

· a reverência ao criador e à criação, destacadamente a ação de graças e a reafirmação dos compromissos de respeitar o ambiente e “curar” o mundo;

. a comemoração do passado honrando os antepassados, pelo aprendizado de suas lições e seguindo os exemplos das realizações da história;

. a renovação dos compromissos com os ideais culturais mais altos da comunidade como a verdade, justiça, respeito às pessoas e à natureza, o cuidado com os vulneráveis, e respeito aos anciões;

. a celebração do “Bem da Vida” que é um conjunto de luta, realização, família, comunidade e cultura.

Karenga diz que “a Kwanzaa é celebrada através de rituais, diálogos, narrativas, poesia, dança, canto, batucada e outras festividades.” Estas atividades devem demonstrar os sete princípios, Nguzo Saba em suaíli:

  • umoja (unidade),
  • kujichagulia (autodeterminação),
  • ujima (trabalho coletivo e responsabilidade),
  • ujamaa (economia cooperativa),
  • nia (propósito),
  • kuumba (criatividade),
  • imani (fé).

A cada dia uma vela de cor diferente deve ser acesa em um altar onde são colocadas frutas frescas, uma espiga de milho para cada criança que houver na casa. Depois de acesa a vela, todos bebem de uma taça comum em reverência aos antepassados, e saúdam com a exclamação Harambee! que tanto significa “reúnam todas as coisas” como “vamos fazer juntos”. A grande festa é a de 1o de janeiro, quando há muita comida, muita alegria e onde cada criança deve ganhar três presentes que devem ser modestos: um livro, um objeto simbólico e um brinquedo.

Grande Karenga, grande idéia, grande festa! Cheia de alegria e significado, sem pertencer a nenhuma igreja e sem negar ou excluir a nenhuma fé, com ótimas receitas, boa bebida e muita fruta, com presentes e rituais mas, até onde eu tenha pesquisado, ou até hoje, nenhuma super comercialização ou bandos de coros desafinados de criancinhas louras, negras e asiáticas o dia inteiro na tv.

Apenas alegria e humanidade em torno de valores e significados permanentes sobre os quais temos que refletir e trabalhar.

Gostei dessa festa proposta por um homem perplexo pelos dramas de sua geração, mas inconformado e movido por seus desafios. Uma festa moderna e tradicional, africana e ocidental, negra, americana, ancestral e urbana, musical, encantada e familiar.

Unidade, autodeterminação, trabalho coletivo e responsabilidade, economia cooperativa, propósito, criatividade, e fé são alguns dos meus votos para você.

Feliz Kwanzaa para você e toda a sua família!
Harambee! ”

* Ricardo Prado é maestro.

fonte: Firma Produções

By Veri Serpa Frullani

Veri Serpa Frullani, brasileira, mãe e esposa, atualmente vive em Dubai, já morou em Nova York, São Paulo e Rio de Janeiro. Bacharel em Turismo, produtora multimída, escritora, designer de acessórios, também é editora do Portal Vida Adulta, do Geek Chic e do Firma Produções. Já editou os extintos Brazilians Abroad e Comida Brasileira. Veri Serpa Frullani tem presença e influência na internet desde 1999, já foi colaboradora de vários projetos e sites, entre eles TechTudo, Digital Drops, Olhar Digital e dos extintos Nossa Via e Deusario.

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