Arrumando os arquivos do meu computador, encontrei esse texto que escrevi no dia 14 de junho de 2004, gostei e resolvi postar.

” Dizem que quando a gente nasce já sabe muitas coisas e que ao sairmos de dentro do corpo de nossa mãe o mundo já nos é ingrato, levamos um tremendo susto, pois estamos durante 9 meses, em nosso mundinho, onde tudo é calmo e tranquilo, (a não ser em casos em que a gravidez da mãe é extremamente conturbada, ou por violência doméstica, ou por abuso de drogas, ou outros casos, assim sendo, esses pequenos seres já sofrem antes mesmo de literalmente virem ao mundo) nosso mundinho cercado de escuridão e paz de repente é abruptamente transformado em uma ribalta, luzes fortes, vozes, uma plateia estranhíssima, que utiliza luvas e máscaras, e para piorar tudo ainda levamos um tapa na bunda.

Creio que o mundo é bem ingrato conosco nesse nosso primeiro encontro. Talvez ao passar dos anos achamos que o mundo se torna mais bruto, violento, interrompe nossos planos e idéias porque não temos uma lembrança clara do nosso nascimento, talvez se tivéssemos nada nos surpreenderia.

A melhor época de nossas vidas muitas vezes acreditamos ser a infância, mas se pararmos para pensar será que é mesmo?

Com certeza essa é a época em que não temos preocupações com contas que temos que pagar, horário para irmos trabalhar, horário para fazermos o almoço, salário para receber, salário para pagar, plano de saúde e muitos outros detalhes para cuidarmos.

Por outro lado é nessa época da nossa vida que todos os nossos medos e conflitos pessoais surgem. A forma como somos tratados, a visão que os outros tem de nós e nos fazem questão de mostrar, moldam a forma como seremos no futuro. Se analisarmos bem a fundo, de repente a época de nossa vida mais complicada é a infância, pois muitas vezes, durante a vida adulta é quando gastamos rios de dinheiro com psicanalistas para tentarmos desvendar os problemas que nos acompanham desde a infância.

É engraçado como a maior parte dos momentos de nossas vidas não nos lembramos, em parte porque um dia possue 24 horas, das quais 8 no mínimo devem (por teoria) serem utilizadas para dormirmos, digamos que temos que ter mais 2 horas para as refeições (café da mnhã, almoço e jantar), ½ hora para cuidados pessoais (escovar os dentes, tomar banho), mais 8 horas para trabalharmos …. só aí já gastamos 18 horas e meia, nos sobra 5 horas e meia para pagarmos conta, nos locomovemros de um local ao outro, darmos atenção aos nossos familiares (marido, esposa, filhos, mãe, pai,) e logicamente tempo para nossos amigos.

Vivemos correndo, e na maioria das vezes a vida passa e não temos tempo para acompanhar o ritmo frenético em que tudo ocorre.

Nossa memória é muito seletiva, como não podemos nos lembrar de todos os dias e momentos de nossa vida, ficamos com um pequeno amontoado de lembranças de momentos que nos marcaram.

1. Não lembro quando dei o primeiro passo, assim como creio que 99% das pessoas também não,
2. Não lembro quando falei a primeira palavra,
3. Não lembro quando tive a primeira febre,
4. Não me lembro o dia em que a minha irmã nasceu,
5. Não me lembro da minha festa de 1,2,3,4,5,ou 6 anos de idade,
6. Não me lembro quem foi minha primeira professora,
7. Não me lembro do nome da minha primeira ou primeiro amigo da escola ….

Mas me lembro do meu primeiro dia na escola, talvez porque eu fui somente para levar o meu irmão junto com a minha mãe e resolvi ficar, certamente porque achei muito legal um local cheio de crianças.

Lembro da festa de aniversário que meus pais fizeram para minha irmã e eu , em que tinha palhaço e mágico e que ganhei muitos presentes, mas não recordo quantos anos eu tinha, por mais que tente encaixar os amigos que estavam na festa com a minha cronologia de vida, não sei ao certo se tinha 8,9 ou 10 anos.

Lembro da inauguração da piscina que meu pai construiu em nossa casa quando éramos pequenos, mas sei que lembro principalmente porque no meio de tanta alegria uma das crianças vomitou e acabou com nossa festa.

Apesar de não lembrar do nascimento de minha irmã caçula (nós temos 3 anos de diferença), lembro perfeitamente do dia que a belisquei por achar que ela veio ao mundo para tomar o meu lugar, mas também não posso precisar se foi no dia em que ela voltou do hospital, 1,2,3 ou 4 meses depois….

E assim segue a história da minha vida e da maioria das pessoas, repleta de momentos esquecidos, ou semi-apagados, que ao tentarmos lembrar nos foge da memória ou parte ou se apaga, sobrando apenas uma sombra um borrão.”

By Veri Serpa Frullani

Veri Serpa Frullani, brasileira, mãe e esposa, atualmente vive em Dubai, já morou em Nova York, São Paulo e Rio de Janeiro. Bacharel em Turismo, produtora multimída, escritora, designer de acessórios, também é editora do Portal Vida Adulta, do Geek Chic e do Firma Produções. Já editou os extintos Brazilians Abroad e Comida Brasileira. Veri Serpa Frullani tem presença e influência na internet desde 1999, já foi colaboradora de vários projetos e sites, entre eles TechTudo, Digital Drops, Olhar Digital e dos extintos Nossa Via e Deusario.

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