Domingo resolvi assistir o fantástico e ver qual era do documentário “ Falcão – Meninos do Tráfico ” produzido por MV Bill e Celso Athayde. Realmente posso dizer que é um bom documentário, bem feito, interessante, pode gerar muito dinheiro se for distribuido fora do Brasil, será muito mais debatido na minha opinião lá fora do que aqui.

O que não acreditei foi na indignação e “surpresa”da sociedade em relação as imagens que foram passadas. Essa surpresa e indignação a mim não enganou.

Se você que está lendo, mora na cidade do Rio de Janeiro, provavelmente sabe de tudo que foi mostrado ali, pode nunca ter visto uma criança com uma arma na mão, mas sabe que existe. Eu já fui assaltada por um menino que devia ter no máximo 11 anos e uma navalha na mão.

Queria cortar meu rosto, estava cheirando cola, no sinal de trânsito, 3 quadras da delegacia, fui dar queixa, nada foi feito, ele continuou cheirando cola, assaltando e querendo cortar ou até quem sabe cortando a navalhada o rosto dos outros.

Meu prédio já foi invadido, tiro para tudo quanto é lado. Fui outra vez assaltada em Ipanema e ainda tive que dar dois beijinhos nos bandidos no final do assalto para parecer que éramos amigos.

A violência está aí, se você tem empregada, amigos que moram em comunidades carentes, ou até mesmo se você tem um bom relacionamento com o seu porteiro, você vai saber que o que foi mostrado no documentário acontece diariamente na vida dessas pessoas.

Então a indignação e surpresa dos “intelectuais” a mim não engana.

A questão é o que fazer para mudar a situação?
Vamos ser reais, com o tempo , com o investimento nas comunidades (que não vai ser fácil, as comunidades foram abandonadas pelo governo, mas agora elas “tem” donos), alguém ainda terá que trabalhar para o tráfico.

É um negócio lucrativo, um “empresa” e como toda empresa para continuar funcionando vai necessitar de “funcionários”, porque a clientela sempre irá existir, sempre vai haver quem quer cheirar uma carreirinha, fumar um baseadinho, dar uma puxadinha em uma pedrinha de crack e assim por diante.

O que fazer para mudar essa situação, ninguém sabe, todos temos palpites do que pode ser feito, se irá funcionar ou não ninguém sabe. Quem vai realmente querer se envolver nessa briga? Se o governo não fez, como nós iremos fazer? Quem vai querer se meter com o tráfico?

Em média nos últimos 10 anos, 3 mil menores morreram no estado do Rio de Janeiro por ano. Não sejamos hipócritas, além das famílias dos jovens assassinados (que muitos tb eram assassinos não nos esqueçamos disso) quem mais sentiu falta desses jovens?

A classe média e alta ficou na verdade extremamente feliz com o exército nas favelas, enquanto estava nas favelas e na zona norte ninguém realmente se importou, bastou os tanques começarem a “desfilar” pela zona sul, e aí sim, incomodou e muito e logo o armamento “foi encontrado”.

Tudo uma grande hipocrisia, o objetivo do documentário é válido, “mostrar” para a sociedade o que ela já sabe e finge que não vê é válido também, mas será que alguma coisa vai mudar? Será que daqui 1, 2 ou 3 meses a elite vai lembrar do que assistiu no domingo passado?

Eu realmente tenho as minhas dúvidas, nossa sociedade nunca se importou com os pretos e com os pobres, com preto e pobre então, sempre foi melhor deixar pra lá, na senzala, epa errei, queria dizer na favela.

By Veri Serpa Frullani

Veri Serpa Frullani, brasileira, mãe e esposa, atualmente vive em Dubai, já morou em Nova York, São Paulo e Rio de Janeiro. Bacharel em Turismo, produtora multimída, escritora, designer de acessórios, também é editora do Portal Vida Adulta, do Geek Chic e do Firma Produções. Já editou os extintos Brazilians Abroad e Comida Brasileira. Veri Serpa Frullani tem presença e influência na internet desde 1999, já foi colaboradora de vários projetos e sites, entre eles TechTudo, Digital Drops, Olhar Digital e dos extintos Nossa Via e Deusario.

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