Quando meu pai completou 50 anos, a cerca de mais ou menos uns 10 anos atrás, ficou combinado que a grande festa aconteceria em São Paulo, na região do ABC, onde parte dos familiares moram. Seria a grande comemoração, afinal ele estaria completando meio século de vida e havia conseguido realizar grande parte dos seus sonhos, tinha filhos com saúde, uma esposa que amava, bom emprego, condição de prover uma vida confortável para seus familiares.

Meus pais foram alguns dias antes para organizar a festa e deixaram no Rio, meus irmãos e eu que iríamos na data da festa pois estávamos na escola em época de aulas e provas.

Quando meus pais viajaram, deixaram com cada filho a quantia em dinheiro referente a passagem, a refeição na parada do ônibus, e um dinheiro a mais caso algo acontecesse, além de terem deixado o mesmo valor para uma amiga que iria conosco.

No dia da viagem nós 4 (adolescentes), conseguimos nos atrasar, quando chamamos o táxi já era praticamente o horário de estarmos chegando na rodoviária, quando chegamos na rodoviária o ônibus já havia partido, então resolvemos pegar um ônibus para São Paulo e chegando lá alguém iria nos buscar ou pegaríamos outro ônibus até o destino final.

Embarcamos felizes da vida, na parada do ônibus, descemos, compramos lanche, cada um se acabou comprando biscoito, chocolate, chiclete, enfim, parecia que estávamos em um supermercado.

Quando chegamos em São Paulo e ligamos para os meus pais, eles informaram que não poderiam ir nos buscar pois estavam envolvidos na organização da festa e que nós recebemos dinheiro mais do que suficiente e que deveríamos pegar um ônibus em direção ao nosso destino. A passagem na época creio que era algo em torno de R$13,00.

Lógicamente que nenhum de nós quis informar que havia gastado todo o dinheiro, então fingimos que tudo estava bem e que logo estaríamos chegando. O problema é que tínhamos apenas o valor suficiente para pagar uma passagem e meia. Resolvemos então que deveríamos pedir na fila.

Todos sem graça, fomos em direção a fila e tentamos explicar para as pessoas o que havia acontecido, lógico que não falamos que gastamos o dinheiro com balas, biscoitos , chocolates e refrigerantes, contamos apenas que perdemos o ônibus que ia direto do Rio e que tivemos que parar em São Paulo, de nada adiantou, ninguém quis nos ajudar.

Para complicar, um indivíduo, com um aspecto meio de “bandido” se aprochegou e começou a chegar junto das pessoas na fila e dizer: “sai hoje cedo da cadeia, não tô afim de roubar, estou apenas pedindo uma ajuda porque preciso comer”… a essa altura já sabíamos que se alguém resolvesse “doar” algum dinheiro seria para ele e não para nós.

Conforme foi chegando o horário do embarque, fomos ficando nervosos e um começou a culpar o outro, nisso o “ex-presidiário” nos chamou no canto, imagina a nossa cara, perguntou quanto dinheiro faltava, explicou que não havia saído da cadeia coisa nenhuma, mas que todo dia ele fazia a mesma encenação, tirou um paco de dinheiro do bolso, perguntou se teria alguém para nos buscar na rodoviária quando chegassemos ao destino final> Informamos que sim, então ele resolveu nos dar apenas o dinheiro suficiente para completar o restante das passagens e ainda disse que da próxima vez nós deveríamos prestar atenção ao gastar o dinheiro que nosso pai nos desse.

Aos 30&Alguns vejo que naquele dia aprendemos o valor do dinheiro e que nem sempre quem você pensar que tem mais chances de te ajudar, realmente ajuda …

By Veri Serpa Frullani

Veri Serpa Frullani, brasileira, mãe e esposa, atualmente vive em Dubai, já morou em Nova York, São Paulo e Rio de Janeiro. Bacharel em Turismo, produtora multimída, escritora, designer de acessórios, também é editora do Portal Vida Adulta, do Geek Chic e do Firma Produções. Já editou os extintos Brazilians Abroad e Comida Brasileira. Veri Serpa Frullani tem presença e influência na internet desde 1999, já foi colaboradora de vários projetos e sites, entre eles TechTudo, Digital Drops, Olhar Digital e dos extintos Nossa Via e Deusario.

3 thoughts on “O dia que o pseudo ex-presidiário nos ajudou”
  1. Pois é, as aparências sempre nos engana, não? Conforme solicitação do Ricardo Rayol, me permita fazer parte da blogagem do dia 17. Necessito com urgência de um Brasil melhor. Um ótimo final de semana à você Veridiana.

    Todos necessitamos de um Brasil melhor, muito obrigada por ajudar na divulgação… abs

  2. Não acredito, torraram o dinheiro todo kaka. Agora essa história do presidiário me fez lembrar desta: O IDIOTA E A MOEDA

    Conta-se que numa cidade do interior um grupo de pessoas se divertia com o idiota da aldeia. Um pobre coitado, de pouca inteligência, vivia de
    pequenos biscates e esmolas.
    Diariamente eles chamavam o idiota ao bar onde se reuniam e ofereciam a ele a escolha entre duas moedas: uma grande de 400 REIS e outra menor, de 2.000 REIS.
    Ele sempre escolhia a maior e menos valiosa, o que era motivo de risos para todos.
    Certo dia, um dos membros do grupo chamou-o e lhe perguntou se ainda não havia percebido que a moeda maior valia menos.
    Eu sei, respondeu o tolo assim. “Ela vale cinco vezes menos, mas no dia que eu escolher a outra, a brincadeira acaba e não vou mais ganhar minha
    moeda.”

    Pode-se tirar várias conclusões dessa pequena narrativa.
    A primeira: Quem parece idiota, nem sempre é.
    A segunda: Quais eram os verdadeiros idiotas da história?
    A terceira : Se você for ganancioso, acaba estragando sua fonte de renda.

    Mas a conclusão mais interessante é: A percepção de que podemos estar bem, mesmo quando os outros não têm uma boa opinião a nosso respeito.

    Portanto, o que importa não é o que pensam de nós, mas sim, quem realmente somos.

    “O maior prazer de um homem inteligente é bancar o idiota diante de um
    idiota que banca o inteligente”.

    Abração, Veridiana.

    adorei o Idiota e a Moeda, irei colocar no mensagem etc … abs

  3. O que me deixa indignado é que tem gente que faz da mendicancia profissão.

    infelizmente no nosso país essa tb é uma profissão …

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