Grupos neonazistas ganham novos adeptos todos os dias, segundo estudo a cada quatro segundos há uma nova postagem antissemita no Twitter. Conheça as história e destinos dos principais nazistas que viveram tranquilamente no Brasil, e ajudaram de uma forma ou outra a perpetuar a maldade e injustiça
Parece impensável que grupos nazistas ainda existam, no entanto, dados demonstram que eles cresceram significativamente ao redor do mundo. Claro que parte desse crescimento envolve a internet, no Brasil, por exemplo, o movimento neonazista ganha novos adeptos em fóruns, sites e comunidades em redes sociais diariamente. De acordo com um estudo realizado pela antropóloga Adriana Abreu Magalhães Dias há uma postagem antissemita no Twitter a cada quatro segundos.
Mas muito antes da internet, os nazistas já eram mestres em comunicação. E para compreender o atual momento, é preciso conhecer o passado, principalmente pela perspectiva de seus protagonistas. Em sua nova obra “Personagens do Terceiro Reich”, publicada pela Editora 106, o historiador Rodrigo Trespach apresenta a biografia de pessoas que fizeram parte da história do nazismo no Brasil. Como chegaram, o que fizeram e que fim tiveram.
Uma vez que as ideias de Hitler cresciam, elas também se espalhavam pelo mundo germânico levadas por imigrantes, religiosos, empresários, industriais, representantes industriais e diplomáticos. Antes mesmo da chegada do nacional-socialismo ao poder na Alemanha, a sombra da suástica já habitava nossos territórios. Criada em 1928, em Benedito Timbo, então distrito de Blumenau, estava a seção do Partido Nazista, o primeiro grupo fora do território alemão a ser reconhecido pelas lideranças do partido em Munique.
No começo da década de 1930, o número de adeptos ao redor do mundo era tão alto, que a “Organização do Partido Nazista no Exterior”, NSDAO-AO foi criada em mais de 80 países. Inicialmente a sede brasileira ficou localizada no Rio de Janeiro, mas em 1934, mudou-se para São Paulo, onde haviam mais filiados. Até 1937, o Brasil contava com 2.903 partidários nazistas registrados e além dos membros formais alemães, haviam também um número considerável de simpatizantes nacionais, com alguma ligação com a Alemanha que estiveram envolvidos com atividades nazistas, como publicações em periódicos como o Deutscher Morgen. Jornal autoproclamado “folha oficial do Partido Nazista no Brasil”, situado na Mooca em São Paulo, patrocinado por grandes marcas – conhecidas até hoje, e comandado pelo também líder da primeira sede brasileira, o representante comercial e adido da embaixada alemã no país, Hans Henning von Cossel.
Em 1942, quando Getúlio Vargas declarou o estado de beligerância, os chamados “quintas-colunas”, traidores, espiões e estrangeiros a trabalho destes crimes foram caçados e milhares de pessoas foram presas. Dessa forma, aos poucos a ação sombria perdeu força em território nacional. No entanto, com o fim da Guerra, mesmo com as células nazistas e de espionagem há muito desarticuladas, o Brasil voltou a tornar-se destino de criminosos que fugiam das tropas Aliadas ou da justiça em seus países de origem. Inúmeras rotas de fugas foram organizadas, inclusive pelo Vaticano, onde o bispo Alois Hudal, chefe da congregação austro-alemã fez as chamadas “rotas dos ratos”, fornecendo passaporte e vistos falsos para os criminosos e suas famílias.
A “Rota dos Conventos” (via Roma-Genova) e a “Conexão Suíça” (por Berna), trouxe a América do Sul fugitivos importantes da hierarquia, como Adolf Eichmann, um dos organizadores da Solução Final, e Josef Mengele, o sádico médico-chefe de Auschwitz. Além de Mengele, pelo menos três outros criminosos da guerra nazista viveram tranquilamente no Brasil, Franz Stangl, Gustav Wagner e Herberts Cukurs.
Conheça agora um pouco da história e destino de cada um:
O anjo da morte, Mengele chegou a receber a visita de seu filho em São Paulo, Rolf, que morava na Alemanha, e viveu sem ser importunado até sofrer um derrame e morrer afogado na praia de Bertioga, no litoral paulista, enquanto visitava uma família de amigos.
Stangl, um do mais eficientes e terríveis oficiais nazistas, trabalhou na indústria têxtil e na Volkswagen, foi preso em 1967 em sua residência no Brooklin e extraditado para a Alemanha Ocidental, condenado a prisão perpétua. Morreu em 1970 de insuficiência cardíaca em sua cela.
Wagner, conhecido por seu sadismo e lealdade à SS, foi reconhecido como um dos mais brutais homens dos campos da morte, com a ajuda do Vaticano, ele chegou a Síria e depois ao Brasil, onde aportou em abril de 1950. Viveu em um sitio de Atibaia até 1978 quando foi capturado, e apesar de inúmeras tentativas de extradição e recusa do governo brasileiro, ele próprio tirou sua vida cravando no coração uma faca usada para carnear porcos, mas sem nunca se arrepender por seus crimes.
Já Cukurs, o açougueiro de Riga, desembarcou no Brasil em marco de 1946, alegando que fugira dos comunistas tentando salvar mulheres judias. No Rio de Janeiro construiu os pedalinhos e organizou passeios na Lagoa Rodrigo de Freitas. Em São Paulo, no bairro de Interlagos, investiu numa empresa de lanchas e hidroaviões de aluguel. Apenas em fevereiro de 1965, ele foi atraído por um agente israelense (que usava o pseudônimo de Anton Kuenzle) para o que imaginou ser uma reunião de negócios em no Uruguai. Lá foi executado pelo Grupo de Operações Especiais de Israel. Seu corpo foi colocado dentro de um baú e trancafiado. Junto ao cadáver havia um bilhete que responsabilizava Cukurs pela morte de milhares de homens, mulheres e crianças. O bilhete foi assinado por “aqueles que nunca esquecem”.
Ficha técnica:
Título: Personagens do Terceiro Reich: a história dos principais nomes do nazismo e da Alemanha na Segunda Guerra Mundial
Autor: Rodrigo Trespach
Editora: 106 Biografias
Idioma: Português
Gênero: História, Biografia, Segunda Guerra, Nazismo
Edição: 1ª/2020
ISBN: livro impresso: 978-65-87399-07-2 | ebook: 978-65-87399-08-9
Páginas: 240
Link de compra: https://amzn.to/3pwbtHJ
Sobre o autor: Rodrigo Trespach nasceu em Osório, RS. É historiador, pesquisador e autor de doze livros, entre eles, O Lavrador e o Sapateiro (2013), Quatro Dias em Abril (2016), os quatro livros da coleção Histórias não (ou mal) contadas (2017 e 2018) e 1824 (2019). Também é autor de diversos artigos e matérias para jornais e revistas nacionais e internacionais. Veja mais em rodrigotrespach.com
Sobre a Editora 106: é o resultado do encontro entre a psicanalista Fernanda Zacharewicz, que já editava obras na área da Psicanálise na Aller Editora, e o jornalista Omar Souza, publisher com mais de 20 anos de experiência. Diferentemente de outras editoras, a marca tem diversificação nos gêneros o que não deixa dúvidas de que há 106 editoras em uma só. Os subselos: 106 Biografias, 106 Ideias (ensaios, Filosofia, História etc.), 106 Pessoas (desenvolvimento pessoal, espiritualidade, negócios etc.), 106 Histórias (ficção histórica e contemporânea), 106 Clássicos (obras e autores consagrados), 106 Crônicas (textos produzidos por alguns dos melhores cronistas nacionais e internacionais), entre outros, são o compromisso da editora em representar os mais diversos públicos. A exceção será a Aller, já consolidada no universo psicanalítico brasileiro e que identificará os livros publicados para esse segmento.