Se os meus pais tivessem nascido nos EUA, teriam tido que sentar no fundo do ônibus.
Meus pais nasceram no Brasil e foram algumas sentenas de vezes direcionados para o elevador de serviço.

Se os meus pais tivessem nascido nos EUA, teriam que ter estudado em escolas para negros.
Meus pais nasceram no Brasil e seus filhos sempre estudaram em escolas com 99% de alunos brancos.

Se os meus pais tivessem nascido nos EUA, não seriam (atualmente) discriminados em lojas ou restaurantes.
Meus pais nasceram no Brasil e atualmente ainda há pessoas que os discriminam em lojas e restaurantes.

Se os meus pais tivessem nascido nos EUA, não iriam ver um censo realizado pelo governo, no qual as pessoas se denominarem café-com-leite, chocolate, moreno de pele, nem nada parecido. Lá são única e simplesmente negros.
Meus pais nasceram no Brasil e além de ver os tipos de respostas no censo, ainda muitas vezes escutam dos amigos “imagina você não é negro(a)”.

Não é ofensa nenhuma ser denominado negro(a), é ofensa ser denominado moreninho(a), chocolate, …

Barack Obama representa a mudança não somente para os americanos, mas para negros e negras em diversos países no mundo, onde a população passa fome, vive em guerra (seja na África ou nas comunidades carentes do Rio de Janeiro, ou outros lugares no mundo), é esquecida, discriminada e menosprezada.

Ele pode ser eleito ou não presidente, mas para muitos de nós, ele mostrou “Yes, He Can”(Sim, Ele Pode), e assim como ele, também poderemos.

No dia 28.08.1963, o Rev. Dr. Martin Luther King Jr, fez o discurso “I Have a Dream” (Eu tenho um sonho) em Washington D.C, que ficou conhecido mundialmente.

45 anos após esse discurso, um candidato negro, fez o seu discurso ao aceitar a candidatura presidencial pelo partido democrata.

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EU TENHO UM SONHO
Rev. Dr. Martin Luther King Jr (28.08.1963)

“Eu estou contente em unir-me a vocês no dia que entrará para a história como a maior demonstração pela liberdade na história de nossa nação.
Cem anos atrás, um grande americano, na qual estamos sob sua simbólica sombra, assinou a Proclamação de Emancipação. Esse importante decreto veio como um grande farol de esperança para milhões de escravos negros que tinham murchados nas chamas da injustiça. Ele veio como uma alvorada para terminar a longa noite de seus cativeiros.
Mas cem anos depois, o Negro ainda não é livre.
Cem anos depois, a vida do Negro ainda é tristemente inválida pelas algemas da segregação e as cadeias de discriminação.
Cem anos depois, o Negro vive em uma ilha só de pobreza no meio de um vasto oceano de prosperidade material. Cem anos depois, o Negro ainda adoece nos cantos da sociedade americana e se encontram exilados em sua própria terra. Assim, nós viemos aqui hoje para dramatizar sua vergonhosa condição.
De certo modo, nós viemos à capital de nossa nação para trocar um cheque. Quando os arquitetos de nossa república escreveram as magníficas palavras da Constituição e a Declaração da Independência, eles estavam assinando uma nota promissória para a qual todo americano seria seu herdeiro. Esta nota era uma promessa que todos os homens, sim, os homens negros, como também os homens brancos, teriam garantidos os direitos inalienáveis de vida, liberdade e a busca da felicidade. Hoje é óbvio que aquela América não apresentou esta nota promissória. Em vez de honrar esta obrigação sagrada, a América deu para o povo negro um cheque sem fundo, um cheque que voltou marcado com “fundos insuficientes”.
Mas nós nos recusamos a acreditar que o banco da justiça é falível. Nós nos recusamos a acreditar que há capitais insuficientes de oportunidade nesta nação. Assim nós viemos trocar este cheque, um cheque que nos dará o direito de reclamar as riquezas de liberdade e a segurança da justiça.
Nós também viemos para recordar à América dessa cruel urgência. Este não é o momento para descansar no luxo refrescante ou tomar o remédio tranqüilizante do gradualismo.
Agora é o tempo para transformar em realidade as promessas de democracia.
Agora é o tempo para subir do vale das trevas da segregação ao caminho iluminado pelo sol da justiça racial.
Agora é o tempo para erguer nossa nação das areias movediças da injustiça racial para a pedra sólida da fraternidade. Agora é o tempo para fazer da justiça uma realidade para todos os filhos de Deus.
Seria fatal para a nação negligenciar a urgência desse momento. Este verão sufocante do legítimo descontentamento dos Negros não passará até termos um renovador outono de liberdade e igualdade. Este ano de 1963 não é um fim, mas um começo. Esses que esperam que o Negro agora estará contente, terão um violento despertar se a nação votar aos negócios de sempre.
Mas há algo que eu tenho que dizer ao meu povo que se dirige ao portal que conduz ao palácio da justiça. No processo de conquistar nosso legítimo direito, nós não devemos ser culpados de ações de injustiças. Não vamos satisfazer nossa sede de liberdade bebendo da xícara da amargura e do ódio. Nós sempre temos que conduzir nossa luta num alto nível de dignidade e disciplina. Nós não devemos permitir que nosso criativo protesto se degenere em violência física. Novamente e novamente nós temos que subir às majestosas alturas da reunião da força física com a força de alma. Nossa nova e maravilhosa combatividade mostrou à comunidade negra que não devemos ter uma desconfiança para com todas as pessoas brancas, para muitos de nossos irmãos brancos, como comprovamos pela presença deles aqui hoje, vieram entender que o destino deles é amarrado ao nosso destino. Eles vieram perceber que a liberdade deles é ligada indissoluvelmente a nossa liberdade. Nós não podemos caminhar só.
E como nós caminhamos, nós temos que fazer a promessa que nós sempre marcharemos à frente. Nós não podemos retroceder. Há esses que estão perguntando para os devotos dos direitos civis, “Quando vocês estarão satisfeitos?”
Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto o Negro for vítima dos horrores indizíveis da brutalidade policial. Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto nossos corpos, pesados com a fadiga da viagem, não poderem ter hospedagem nos motéis das estradas e os hotéis das cidades. Nós não estaremos satisfeitos enquanto um Negro não puder votar no Mississipi e um Negro em Nova Iorque acreditar que ele não tem motivo para votar. Não, não, nós não estamos satisfeitos e nós não estaremos satisfeitos até que a justiça e a retidão rolem abaixo como águas de uma poderosa correnteza.
Eu não esqueci que alguns de vocês vieram até aqui após grandes testes e sofrimentos. Alguns de vocês vieram recentemente de celas estreitas das prisões. Alguns de vocês vieram de áreas onde sua busca pela liberdade lhe deixaram marcas pelas tempestades das perseguições e pelos ventos de brutalidade policial. Vocês são o veteranos do sofrimento. Continuem trabalhando com a fé que sofrimento imerecido é redentor. Voltem para o Mississippi, voltem para o Alabama, voltem para a Carolina do Sul, voltem para a Geórgia, voltem para Louisiana, voltem para as ruas sujas e guetos de nossas cidades do norte, sabendo que de alguma maneira esta situação pode e será mudada. Não se deixe caiar no vale de desespero.
Eu digo a vocês hoje, meus amigos, que embora nós enfrentemos as dificuldades de hoje e amanhã. Eu ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho americano.
Eu tenho um sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado de sua crença – nós celebraremos estas verdades e elas serão claras para todos, que os homens são criados iguais.
Eu tenho um sonho que um dia nas colinas vermelhas da Geórgia os filhos dos descendentes de escravos e os filhos dos descendentes dos donos de escravos poderão se sentar junto à mesa da fraternidade.
Eu tenho um sonho que um dia, até mesmo no estado de Mississippi, um estado que transpira com o calor da injustiça, que transpira com o calor de opressão, será transformado em um oásis de liberdade e justiça.
Eu tenho um sonho que minhas quatro crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da sua pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Eu tenho um sonho hoje!
Eu tenho um sonho que um dia, no Alabama, com seus racistas malignos, com seu governador que tem os lábios gotejando palavras de intervenção e negação; nesse justo dia no Alabama meninos negros e meninas negras poderão unir as mãos com meninos brancos e meninas brancas como irmãs e irmãos. Eu tenho um sonho hoje!
Eu tenho um sonho que um dia todo vale será exaltado, e todas as colinas e montanhas virão abaixo, os lugares ásperos serão aplainados e os lugares tortuosos serão endireitados e a glória do Senhor será revelada e toda a carne estará junta.
Esta é nossa esperança. Esta é a fé com que regressarei para o Sul. Com esta fé nós poderemos cortar da montanha do desespero uma pedra de esperança. Com esta fé nós poderemos transformar as discórdias estridentes de nossa nação em uma bela sinfonia de fraternidade. Com esta fé nós poderemos trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, para ir encarcerar juntos, defender liberdade juntos, e quem sabe nós seremos um dia livre. Este será o dia, este será o dia quando todas as crianças de Deus poderão cantar com um novo significado.
“Meu país, doce terra de liberdade, eu te canto.
Terra onde meus pais morreram, terra do orgulho dos peregrinos,
De qualquer lado da montanha, ouço o sino da liberdade!”
E se a América é uma grande nação, isto tem que se tornar verdadeiro.
E assim ouvirei o sino da liberdade no extraordinário topo da montanha de New Hampshire.
Ouvirei o sino da liberdade nas poderosas montanhas poderosas de Nova York.
Ouvirei o sino da liberdade nos engrandecidos Alleghenies da Pennsylvania.
Ouvirei o sino da liberdade nas montanhas cobertas de neve Rockies do Colorado.
Ouvirei o sino da liberdade nas ladeiras curvas da Califórnia.
Mas não é só isso. Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Pedra da Geórgia.
Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Vigilância do Tennessee.
Ouvirei o sino da liberdade em todas as colinas do Mississipi.
Em todas as montanhas, ouviu o sino da liberdade.
E quando isto acontecer, quando nós permitimos o sino da liberdade soar, quando nós deixarmos ele soar em toda moradia e todo vilarejo, em todo estado e em toda cidade, nós poderemos acelerar aquele dia quando todas as crianças de Deus, homens pretos e homens brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão unir as mãos e cantar nas palavras do velho spiritual negro:
“Livre afinal, livre afinal.
Agradeço ao Deus todo-poderoso, nós somos livres afinal.”

Aos 30&Alguns, depois de ter morado nos EUA e ter parentes vivendo lá, o dia de hoje, chegou muito mais rápido do que muitos de nós e de nossos amigos americanos de todas as raças e negros de outras nacionalidades que residem no país, imaginávamos. Yes, He Can (Sim, Ele Pode)!

By Veri Serpa Frullani

Veri Serpa Frullani, brasileira, mãe e esposa, atualmente vive em Dubai, já morou em Nova York, São Paulo e Rio de Janeiro. Bacharel em Turismo, produtora multimída, escritora, designer de acessórios, também é editora do Portal Vida Adulta, do Geek Chic e do Firma Produções. Já editou os extintos Brazilians Abroad e Comida Brasileira. Veri Serpa Frullani tem presença e influência na internet desde 1999, já foi colaboradora de vários projetos e sites, entre eles TechTudo, Digital Drops, Olhar Digital e dos extintos Nossa Via e Deusario.

14 thoughts on “Yes, He Can (Sim, Ele Pode)”
  1. BARAK JÁ!!! e só pra fazer uma pequena “correção”, devemos falar PRETOS, negros não, por favor… negro é sinônimo de escravo, é coisa do passado q infelizmente ainda hoje nos fazem prisioneiros em nossa própria mentalidade! por isso é q lá nos EUA falam “afro-american” ou simplesmente “black”. AFRO!!! Dá pra perceber a tremenda diferença q isso faz na auto-estima de um povo e na educação de uma nação? Paz!

  2. SIM, ELE PODE! e nós também podemos.
    Todos juntos poderemos não só transformar uma nação mas o mundo.,
    mas pra isso precisamos não só acreditar nesse sonho, mas lutar por ele.
    Dias melhores virão,e que DEUS o abençoe.
    bjusss

  3. Nunca vi pessoas tão preconceituosas quanto as da raça negra. Eu sou branco, mas detesto preconceitos de toda ordem. Fico abismado ao ver um negro dizer que “com uma preta eu não fico” ou uma negra dizer “não consigo me ver com um homem negro”. Pode ver os negros de baixa renda que ficam milionários. Até viram piada: “carro importado, cordão de ouro no peito e uma loira ao lado”.

    Faz-me lembrar da música “Elevador” de Jorge Aragão: “Se preto de alma branca pra você/ é o exemplo da dignidade/ não nos ajuda – só nos faz sofrer/ nem resgata nossa identidade”.

    Só quando o negro parar com essa frescura de dizer que é moreninho, chocolate, bronzeado, etc, e assumir que é negro, que ser negro não é defeito, o mundo o tratará igual ao branco. Porque eu posso não ser preconceituoso, mas o preconceito quanto a cor ainda existe – infelizmente, e muito, desde a classe mais baixa até a classe mais alta, aqui ou em outros lugares do mundo.

    Ademais, é como sempre ouvi o pai de um amigo meu (negro) dizer a ele: Se você não respeitar a si mesmo, por que acha que os outros irão respeitá-lo?

    Abraços, Veri Negra Linda!

    😉

  4. Esta discussão parece não ter fim. A discriminação existe sim, em todo lugar. Quando se diz que um negro pode ser presidente ou isto ou aquilo, está se enfatizando a cor e a raça. Por que não dizemos um branco fez isto ou aquilo?
    Minha avó paterna era negra, e o meu avô branco-alemão. Quando digo a alguém que sou negra, me olham espantados porque a pele é branca. Na verdade, nossa raça é humana, e preto é minha cor preferida.
    Vou trabalhar este texto do Mr. King com meus alunos.
    beijo, menina

  5. Acho q mais importante do q a cor da pele do Barack Obama, é seu caráter. Obviamente o fato de ser o primeiro negro com reais chances de chegar a presidência poderá ser um divisor de águas na América. E que ele consiga. E q mais q conseguir, q ele realmente faça a diferença.
    Muito bom.
    bjs
    Bosley

  6. “Now we demand a chance to do things for ourserlf
    We’re tired of beatin’ our head against the wall
    And workin’ for someone else
    We’re people, we’re just like the birds and the bees
    We’d rather die on our feet
    Than be livin’ on our knees
    Say it loud, I’m black and I’m proud”

    FREE AT LAST, YES WE CAN!

  7. Go » I’m saying loud to all: I’m black and I’m proud!!! James Brown simplesmente the best… bjs

  8. du bosley » concordo perfeitamente, o principal é o seu caráter, sem dúvida alguma, mas você falou tudo ao dizer que é de fato o primeiro negro com reais chances de chegar a presidência e esse fator é um grande passo, uma mudança imensa nos EUA. te amo amigo, volte sempre, sempre bom te “ver” por aqui… bjs

  9. denise rangel » acho que não dizemos que um branco fez isso ou aquilo, pelo simples fato de que á séculos os brancos fazem tudo, é normal, é o que estamos acostumados, bem ou mal, no subconsciente coletivo humano, o branco tem capacidade de fazer tudo, o que não achamos muitas vezes das outras raças. Se você estivesse nos EUA eles iriam se espantar se você dissesse que é branca tendo antepassados negros, a questão da cor ainda é muito complexa no mundo como um todo. bjs

  10. Cirilo Veloso Moraes » por um lado Cirilo, quando o negro ascende socialmente ele passa a conviver com poucos negros, por consequência se ele quiser casar com uma negra, deve voltar para o bairro de onde veio e procurar, pois no seu ciclo social, ele irá conviver na maior parte do tempo com brancas, sendo assim, um dos motivos porque o negro com dinheiro geralmente está casado com uma pessoa da raça branca, além do amor (em muitos casos, como o meu), também porque é escasso a quantidade de negros com quem convive.

    Por outro lado, essa música do Jorge Aragão diz muito a respeito da situação do negro brasileiro, aliás Jorge Aragão, na minha opinião é sensacional, consegue conscientizar a massa com suas letras.

    Discordo que quando o negro aceitar que é negro o mundo o tratará igual ao branco, vide a situação da África, entre outras, mas enquanto o negro brasileiro continuar com vergonha e principalmente não querendo ser branco, não chegará a lugar nenhum, não irá lutar por melhorias, continuará a maioria sem acesso a moradia descente, estudo, alimentação, enfim continuaram nas senzalas mordernas, as favelas.

    O pai do seu amigo está absolutamente certo no que disse, e vale para todo e qualquer ser humanos: “Se você não respeitar a si mesmo, por que acha que os outros irão respeitá-lo?”

    bjs

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