Você conhece alguém que já teve câncer de ovário? Na realidade, pouco se ouve falar sobre esse tipo de câncer, atualmente considerado o tumor ginecológico mais difícil de ser diagnosticado em fases iniciais e por isso, combatido. De acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), serão registrados em 2018 no Brasil aproximadamente seis mil novos casos de câncer de ovário, sendo que cerca de 70% destes, o diagnóstico se faz em estágios avançados da doença (III e IV).
De acordo com Dra. Michelle Samora, oncologista do Centro Paulista de Oncologia CPO – Grupo Oncoclínicas, o câncer de ovário possui maior incidência principalmente em mulheres acima dos 60 anos e o risco de uma mulher desenvolver este câncer ao longo da vida é de 1,3%.
Entre os fatores que contribuem para um risco aumentado desta doença estão:
- primeira menstruação precoce (abaixo dos 12 anos)
- menopausa tardia (acima dos 52 anos)
- obesidade
- tabagismo
Entre os fatores que contribuem para a redução do risco:
- gravidez
- amamentação
- uso de contraceptivos orais (uso contínuo de anticoncepcionais por período superior a cinco anos – diminuição em até 60% da incidência)
Cerca de 15% dos tumores ovarianos são decorrentes da predisposição genética hereditária, herdada de pai ou mãe. No entanto, a especialista ressalta que as mutações genéticas que predispõe ao câncer de ovário podem não se limitar a mulheres com uma forte história familiar da doença. De fato, cerca de 1/3 das pacientes portadoras da mutação do gene BRCA (principal gene envolvido no surgimento desta doença) não apresentam sequer um familiar portador de câncer. É por este motivo que ao se realizar o diagnóstico de câncer de ovário, todas as mulheres devem ser testadas geneticamente.
Aquelas mulheres sabidamente portadoras de mutação no gene BRCA tem um risco de desenvolver o câncer de ovário ao longo da vida de 25 a 45%, muito acima do risco de uma mulher não portadora de alteração genética. Segundo a oncologista, nesta situação, é possível indicar medidas como a cirurgia preventiva de retirada dos ovários e tubas uterinas, uma vez que este procedimento reduz em 96% o risco de desenvolvimento do câncer de ovário. Esta é uma decisão que deve ser tomada de forma conjunta pela paciente e seu médico.
Pouco se sabe sobre o mecanismo ou tempo de progressão do câncer de ovário localizado para o disseminado. E, até o presente momento, não há exames indicados para triagem do câncer de ovário na população em geral ou naquelas portadoras de mutação no gene BRCA – mesmo com várias modalidades de exames já avaliados, incluindo ultrassom, exames de sangue ou mesmo tomografia anuais.
O sintoma do câncer de ovário é discreto e demora a se manifestar. Por isso, na maioria dos casos, é diagnosticado tardiamente, quando a doença já se espalhou pelo aparelho reprodutor e outros órgãos abdominais. Quando aparentes, pode ocorrer um aumento do volume abdominal, dor, alterações no ciclo menstrual, no hábito urinário e intestinal.
Dra.Michelle pontua que o problema é que os sintomas, quando aparentes, são parecidos com os desconfortos do dia a dia da mulher e, na maioria dos casos, são deixados de lado. Por isso, é recomendado que a mulher procure um especialista caso perceba qualquer alteração, mesmo que pareça usual.
A definição do tratamento para pacientes com câncer de ovário depende do tipo e estágio da doença, a cirurgia ainda é o principal tratamento e a quimioterapia pode ser indicada, dependendo do caso, antes e/ou após a intervenção cirúrgica. Em casos selecionados do desenvolvimento do câncer de ovário em idade fértil, o tratamento visando a manutenção da fertilidade feminina, deverá ser particularizado.