Desvendando o coração feminino: de processo evolutivo à jornada de trabalho tripla, fatores de risco aumentam na menopausa

Um terço menor que o masculino, coração da mulher apresenta frequência cardíaca mais acelerada e sente com intensidade os impactos do estresse diário

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), as doenças cardiovasculares são causadoras de um terço de todas as mortes de mulheres no mundo, o que equivale a cerca de 8,5 milhões de óbitos por ano, ou seja, 23 mil por dia, tornando-se a principal causa de mortalidade entre elas.

Muitas vezes, os cuidados com o coracao costumam ficar de lado. De acordo com a cardiologista Bianca Maria Prezepiorski, do Hospital Cardiológico Costantini, várias são as causas que tornam as mulheres suscetíveis a eventos cardiovasculares, principalmente, na fase da menopausa, após 45 anos. Mesmo com o índice de infarto maior entre os homens, as consequências e sequelas na população feminina são mais graves.

“Nas mulheres, as artérias coronárias são mais finas do que a dos homens. O coração feminino também é um pouco menor, cerca de dois terços do tamanho do masculino. Além disso, elas apresentam uma frequência cardíaca (batimentos por minutos), um pouco mais acelerada. Outro ponto importante é a diabetes, uma condição que favorece os problemas no coração e costuma ser mais comum entre as mulheres”, explica Bianca.

Questões históricas, culturais e hormonais também são determinantes na forma como cada gênero lida com situações de estresse que afetam o coração. “O homem está mais preparado, fisicamente falando, para situações de estresse agudo. Por exemplo, o homem das cavernas precisava estar preparado para situações de fuga ou de luta. Para a mulher, foram deixadas as tarefas de cuidado da família, que geram um estresse a longo prazo, como casos de doença em casa, por exemplo, que são situações de estresse mais lentas e progressivas. Então, lidar com situações de estresse do ponto de vista físico para a mulher é diferente”, destaca a cardiologista sobre a alteração de rotina delas ao assumir novas responsabilidades.

Mudanças sociais afetam diretamente a saúde da mulher

As mulheres estão cada vez mais assumindo o protagonismo em diversas áreas da sociedade. Segundo o relatório Education at Glance 2019 , elas são maioria nos ambientes estudantis. Enquanto 18% dos homens brasileiros de 25 a 34 anos têm ensino superior, essa porcentagem sobe para 25% entre as mulheres da mesma faixa etária. No mercado de trabalho, a presença feminina é também mais expressiva, a cada dia. 

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) indica que, até 2030, a participação feminina no mercado de trabalho brasileiro deve crescer mais que a masculina. Porém, em relação aos afazeres domésticos, as obrigações delas não foram amenizadas com o tempo. Nos últimos 15 anos, o número de lares chefiados por mulheres mais que dobrou, com crescimento de 105%, representando 40,5% das residências no Brasil. Dessas, 11,6 milhões estão inseridas no chamado “arranjo monoparental”, ou seja, uma família de núcleo único onde a responsabilidade por prover e cuidar é unicamente da mulher.

“As mulheres passaram a ter fatores de riscos semelhantes aos homens quando começaram a atuar no mercado de trabalho. Além disso, acumulam uma jornada tripla: os cuidados com a casa, com os filhos e com a família, além dos estudos e da carreira. Essa realidade, muitas vezes representa uma carga de estresse muito grande, propiciando que elas adoeçam com mais facilidade”, ressalta a médica.

A síndrome do coração partido

A cardiomiopatia de Takotsubo, também conhecida como síndrome do coração partido, é o infarto diante de uma condição extrema de estresse, onde as artérias sofrem um espasmo ocasionado por uma overdose de adrenalina, é potencialmente fatal e atinge muito mais mulheres do que homens.

A perda de um ente querido, uma separação ou outra situação de estresse súbito é recebida de forma bem diferente para a saúde da mulher. “Não se sabe exatamente porque a síndrome do coração partido acomete mais as mulheres. Uma das hipóteses é que elas podem sofrer com uma descarga maior de adrenalina do que os homens, porque eles tem mais receptores de adrenalina, que espalha o hormônio  pelo corpo, diminuindo o impacto ao coração”, afirma a cardiologista.

Ou seja, a mulher tem, fisicamente, mais dificuldade de lidar com essas situações de estresse súbito. Segundo a Dra. Bianca, para proteger o coração, é preciso diminuir os níveis de adrenalina e cortisol, que são hormônios de estresse, e aumentar os da alegria, felicidade e paz como serotonina, ocitocina e endorfinas. “Para ativar as essas substâncias e preservar a saúde do coração feminino são recomendadas atividades físicas, lúdicas, de lazer e de prazer, que irão colaborar com a lubrificação e dilatação das artérias, diminuindo os riscos de doenças cardiovasculares”, conclui.

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