Ontem conversando com meu primo, acabamos percebendo como muitas vezes simplesmente por nos deslocarmos de nossa terra natal para outra, percebemos que aquilo que acreditávamos piamente ser, em outros lugares, não somos.

Quando eu fiz intercâmbio e fui morar em Idaho, na cidade em que morei, não havia nenhuma pessoa negra, a princípio, confesso, que fiquei um pouco assustada e com medo, pois desde pequena assistia filmes americanos que mostrava a KKK… mas por incrível que pareça na cidade em que vivi, não tive problemas, eles me viam mais com uma certa curiosidade do que outra coisa, tipo uma éspecie nova e rara na área.

Tive problemas, quando fui visitar uma amiga na Universidade em Twin Falls, lá sim havia negros, que jogavam basquete…. Um dia eu estava caminhando e um gritou:
“- Hey black girl” (Oh garota negra)
Como eu tenho nome, e que eu saiba não é balck girl, continuei andando. E ele veio atrás, quando ele foi mais educado e eu respondi, ele olhou para mim com uma cara de nojo e disse
“-You are not a black girl (Você não é negra)
Sempre soube que meu nome era Veridiana (e não black girl), mas também sempre soube que era uma black girl.
Para ele eu não era, pois não era afro-americana, tinha sotaque, uns traços estranhos, então ali, para ele eu não era nem branca, nem preta.

Meu primo quando foi para a África do Sul a negócios, logo após o “fim” (vamos fingir que acreditamos) do apartheid, ficou também sem entender quem ele era. Aqui no Brasil sempre foi negro, sempre escutou piadinhas, etc… quando chegou lá, os negros não o identificavam como sendo parte do grupo, pois lá os negros são “puros”, são pretinhos mesmo, não há mistura… então como ele não era da pele preta e sim marrom, para os negros lá preto ele não era.

Uma amiga minha, filha de pais chineses, que nasceu no Brasil, durante a vida toda só falou chinês em casa. Aqui no Brasil as pessoas primeiro se referem a ela como japonesa (bastou ter olho puxado que vira japonesa), quem conhece às vezes brinca, lá vem a chinesinha… mas na China ela não foi tão bem recebida, pelo simples fato de não saber ler. Me recordo que quando ela voltou de lá, ela disse que por nao saber ler, os chineses a tratavam muito mal, pois as pessoas lá sabem ler, então a chinesinha na verdade descobriu que lá, chinesa ela não era.

Quando era adolescente fui ao Chile com a minha comadre, aqui no Brasil ela é branca de cabelos cacheados, não é mulata, é branca mesmo…. lá no Chile como a maioria das pessoas tem cabelos lisos (ou são brancos, ou índios, ou a mistura dos dois), a minha comadre de cabelo cacheados, era considerada mulata … eu ri muito, porque ela nunca foi considerada negra e o simples fato de ter o cabelo cacheado a colocou como fazendo parte de uma outra raça em outro país.

Aos 30&alguns eu vejo que o legal de viajar, conhecer outras culturas, conhecer outros povos, é que muitas vezes nos vemos de forma diferente, aprendemos que nem tudo aquilo que conhecemos como verdade, na realidade é…. temos que saber quem somos como seres humanos, o que carregamos em nossos corações e mentes e não aquilo que nos dizem que somos pela nossa aparência, porque tudo é relativo e dependendo onde você estiver o que você sempre acreditou ser em um instante para de ser.

By Veri Serpa Frullani

Veri Serpa Frullani, brasileira, mãe e esposa, atualmente vive em Dubai, já morou em Nova York, São Paulo e Rio de Janeiro. Bacharel em Turismo, produtora multimída, escritora, designer de acessórios, também é editora do Portal Vida Adulta, do Geek Chic e do Firma Produções. Já editou os extintos Brazilians Abroad e Comida Brasileira. Veri Serpa Frullani tem presença e influência na internet desde 1999, já foi colaboradora de vários projetos e sites, entre eles TechTudo, Digital Drops, Olhar Digital e dos extintos Nossa Via e Deusario.

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