Você já se sentiu como se fosse viciado em e-mail, Twitter, WhatsApp ou Facebook? Você acha que é impossível ignorar seu whats se perceber que tem mensagens não lidas? Já se pegou buscando informação no Google e 30 minutos depois percebeu que estava procurando por algo totalmente diferente de antes? Estes são exemplos da dopamina trabalhando.
A dopamina é um neurotransmissor, precursor natural da adrenalina e da noradrenalina. Tem como função a atividade estimulante do sistema nervoso central e neurocientistas a tem estudado. “Descoberta” em 1958 por Arvid Carlsson e Nils-Ake Hillarp no Instituto Nacional do Coração, da Suécia, a dopamina é criada em várias partes do cérebro e é crítica em todos os tipos de funções que ele exerce, incluindo o pensamento, movimento, dormir, humor, atenção,motivação, busca e recompensa.
Existe o mito que a dopamina controla os sistemas de “prazer” do cérebro; faz sentir prazer e portanto, motiva a busca de certos comportamentos, tais como comida, sexo e drogas.
As últimas pesquisas mostram que a dopamina nos leva a querer, desejar, procurar e pesquisar. Ela aumenta nosso nível geral de excitação e nosso comportamento dirigido. (do ponto de vista evolutivo, é fundamental, nos mantém motivados para percorrer o mundo, aprender e sobreviver). Não é apenas sobre as necessidades físicas, tais como alimento ou sexo, mas também sobre conceitos abstratos. A dopamina nos torna curiosos sobre ideias e alimenta a nossa busca por informações. Pesquisas mostram que o sistema opioide (separado do dopamina) é que nos faz sentir prazer.
De acordo com Kent Berridge, estes dois sistemas, o “querer” (dopamina) e o “gostar” (opioide) são complementares. O querer nos impulsiona para a ação e o gostar nos faz sentir satisfeitos, portanto, pausar a busca. Se a busca não for “desligada”, pelo menos por um tempo, começamos a executá-la em um loop infinito. Pesquisas mostram que o sistema de dopamina é mais forte do que o sistema opioide. Buscamos mais do que estamos satisfeitos (de volta para a evolução, a busca nos mantem vivos ao invés de ficarmos sentados em torno de um estupor satisfeito).
Com a internet temos a gratificação quase instantânea do nosso desejo de buscar. Quer falar com alguém imediatamente? Envia mensagem que é respondida em poucos segundos. Deseja procurar alguma informação? Basta digitá-la no Google. Quer ver o que seus amigos estão fazendo? Entra no Twitter ou Facebook. Nós entramos em um loop de dopamina induzida e somos recompensados pela busca que nos faz buscar mais. Torna-se mais difícil parar de verificar o e-mail, mensagens, o smartphone para ver se temos uma mensagem ou um novo texto.
Escaneamento cerebral mostra que o nosso cérebro apresenta mais estímulo e atividade quando prevemos uma recompensa do que quando recebemos uma. Pesquisa em ratos mostra que se destruir neurônios de dopamina, os ratos podem andar, mastigar e engolir, mas morrem de fome, mesmo quando o alimento está bem próximo a eles, pois perdem o desejo de buscar a comida.
Apesar de querer e gostar estarem relacionados, a pesquisa também mostra que o sistema de dopamina não têm a saciedade embutida, é possível que continue pedindo “mais”, buscando, mesmo quando já tenha encontrado a informação.
A dopamina também é estimulada pela imprevisibilidade, quando algo acontece que não é exatamente previsível, o estimula. Os e-mails, tweets e mensagens são imprevisíveis e é exatamente esse fator que estimula o sistema de dopamina, o mesmo ocorre com máquinas de jogos de azar e caça-níqueis. (a dopamina está envolvida em esquemas de reforço variáveis, por isso que estes são tão poderosos).
Quando você ouve o som indicando uma notificação no smartphone, por exemplo, o sistema de dopamina é especialmente sensível a “pistas” que uma recompensa está chegando. Se há uma pequena sugestão, específica que significa que algo vai acontecer, o desencadeia, assim o som quando uma mensagem chega, ou uma sugestão visual, intensifica o efeito viciante.
140 caracteres é ainda mais viciante, o sistema é mais poderosamente estimulado quando a informação é pequena, um texto curto ou um tweet são ideais para levar o sistema de dopamina a loucura.
Esta estimulação constante pode ser desgastante e podemos ficar presos em um loop infinito de dopamina.
Como é o seu relacionamento com a internet?
* livre tradução do texto 47 Mind-Blowing Psychological Facts You Should Know About Yourself – Kent C. Berridge and Terry E. Robinson, What is the role of dopamine in reward: hedonic impact, rewardlearning, or incentive salience?: Brain Research Reviews 28 1998. 309–369.