Down Quixote

“Down Quixote” é o primeiro longa-metragem patrocinado pelo SESI-SP, e tem produção da Spray Filmes

“Será que a vida é um sonho ou o sonho é a vida?”. Dom Quixote, o clássico do espanhol Miguel de Cervantes, é o livro mais lido de todos os tempos e conta com dezenas (se não milhares) de adaptações. E agora, o grande herói sonhador ganhou uma releitura única: estreia no dia 01/09, no Mezanino do Centro Cultural FIESP, em São Paulo, “Down Quixote”, filme com elenco 100% composto por atores com Síndrome de Down. Idealizado, escrito e dirigido por Leonardo Cortez, com fotografia de Patrick Hanser, o filme é o primeiro longa-metragem patrocinado pelo SESI-SP e foi produzido pela Spray Filmes, a mesma produtora do longa “Abe” e do canal Quebrando o Tabu.

O longa trás Diogo (Diogo Junqueira), um jovem com Síndrome de Down que pertence a um grupo de teatro que se dedica à remontagem de grandes clássicos da dramaturgia. O projeto mais recente do seu grupo, Dom Quixote, é adiado por conta da pandemia. Na solidão do seu exílio na casa da sua tia, em Tiradentes, Diogo mergulha no universo de sua nova peça enquanto decora seu papel. A partir daí, a história de Dom Quixote acontece na cabeça de Diogo. Dom Alonso Quijana (Ian Pereira) enlouquece depois de um período enfurnado em sua biblioteca. Inspirado pela leitura de livros de cavalaria, ele parte pelo mundo em busca de aventuras, acompanhado do seu fiel escudeiro Sancho Pança (João Simões). Durante a jornada, elementos teatrais se misturam à cenários reais da cidade histórica de Tiradentes, na livre recriação da clássica aventura do cavaleiro andante, onde todos os personagens da saga são interpretados exclusivamente por atores com a Síndrome de Down.

“‘Down Quixote” traz na sua concepção o desafio de recriar o universo mágico e delirante do cavaleiro idealizado por Cervantes a partir do olhar afetuoso e sensível da pessoa com Síndrome de Down. Desenvolvi um roteiro que se apropria com imensa e irrestrita liberdade do universo literário idealizado pelo autor, usando seus personagens e situações como pontos de partida para desdobramentos inusitados a partir da livre apropriação dos artistas com a obra”, comenta Leonardo Cortez.

O filme “Down Quixote” nasceu de uma peça teatral, que se desdobrou para as telonas. Os atores egressos do Grupo ADID de Teatro, criado por Cortez em 1998 e atualmente Nosso Grupo de Teatro da Casa de Cultura Movimentarte, ensaiavam a releitura do clássico. Com a pandemia e o isolamento social, afastados de sua maior paixão, o teatro, surgiu a ideia de continuar os trabalhos e tornar o sonho realidade. Os experientes atores, que já apresentaram mais de uma dezena de peças, estavam acostumados com os palcos, mas tiveram que aprender a usar a câmera como nova espectadora de seus trabalhos. Para isso, o grupo encarou um longo processo de preparação que começou ainda de maneira remota e que se desdobrou em ensaios presenciais diários durante quatro meses, conduzidos por Cortez, pelo diretor de fotografia Patrick Hanser e pela preparadora de elenco Glaucia Libertini.

Longe de ser apenas uma encenação da obra de Cervantes, “Down Quixote” traz a visão da pessoa com Síndrome de Down sobre a história do cavaleiro e seu fiel escudeiro. Para isso, o roteiro se abasteceu de contribuições criativas dos próprios atores nos processos de improvisação, transportando esse universo mágico para a realidade da pessoa com deficiência. A cidade histórica de Tiradentes, onde o filme foi rodado é a nova região da Mancha, onde os devaneios de Dom Quixote se materializam numa mistura entre o onírico e a realidade, permeada de elementos teatrais que escapam do palco e invadem as belas paisagens de Minas Gerais. É em Tiradentes e na cabeça de Dom Quixote que uma locomotiva vira um assustador dragão, a camponesa Aldonza se transforma em Dulcinéia e uma procissão religiosa se confunde com o sequestro de uma princesa. As vivências dos atores na pandemia, o distanciamento e as saudades das pessoas amadas também fazem parte da obra e um celular é a ferramenta que une esses jovens isolados que estão com saudades dos amigos e dos palcos.

“O processo de realizar Down Quixote foi um grande desafio porque só tínhamos 16 dias de filmagem entre Tiradentes, Itu e São Paulo. Por esse motivo, optamos por trabalhar com luz natural e a câmera na mão. Em muitas das cenas, era o clássico ditado de Glauber Rocha de “câmera na mão e ideia na cabeça”, já que não tínhamos muito tempo para fazer diversos takes. Mas isso se provou uma estratégia frutífera que se casou perfeitamente com a espontaneidade e liberdade que o elenco trazia para as cenas. Foi um verdadeiro balé entre atores e a câmera, e uma experiência repleta de aprendizados para toda a equipe e o elenco!”, comenta Patrick Hanser, diretor de fotografia.

A figura do cavaleiro Dom Quixote se traduz pela sua lucidez diante de um mundo brutalizado e senil. Ele é um ser de profunda inteligência, bondade e idealismo, que acaba, justamente por isso, sendo vítima de preconceitos, chacotas e perseguições. O elenco, composto 100% por pessoas com Síndrome de Down, carrega um pouco de Dom Quixote em si mesmo, mas também empresta à Cervantes uma visão única, que só eles poderiam ter. Afinal, quem precisa andar a cavalo quando se tem asas?

down quixote

“A Spray tem tradição de trabalhar com projetos que causam impacto social sem deixar de lado a inovação e o entretenimento. Com Down Quixote, não foi diferente. Acreditamos nesse projeto desde que nos foi apresentado, e é uma imensa felicidade poder vê-lo ganhar espaço no mundo, não só pelas discussões que ele abre, mas por ser um ótimo filme que temos certeza que se conectará com o público”, comenta Celia Kakitani, CEO da Spray. “Down Quixote foi um projeto bastante desafiador! Num primeiro momento, muitos aspectos relacionados à produção pareciam inexequíveis de acordo com a realidade do filme. Mas a obstinação de absolutamente todos os envolvidos em fazer acontecer sempre resultava em uma solução. E esse exercício de quebra de paradigmas em uma produção como essa é o aprendizado que levarei comigo para a vida”, completa Andrea Giusti, produtora.

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