Apesar do tumor ser mais comum a partir dos 50 anos, estudos mostram que diagnóstico cresce anualmente nos mais jovens; Oncologista alerta sobre a importância do tratamento precoce
O mês de março, conhecido pela conscientização contra o câncer colorretal, e que leva a cor azul marinho, traz um alerta fundamental: a importância do diagnóstico e tratamento precoce. De acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), é estimado que no triênio 2020-2022 haja 20.520 casos da doença em homens e 20.470 em mulheres a cada ano. A neoplasia está ainda na lista dos três tipos de câncer que mais atingem os brasileiros, causando aproximadamente 20.578 mil óbitos em 2020.
Com uma maior incidência a partir dos 50 anos, podendo aumentar com o avanço da idade, o tumor colorretal se desenvolve no intestino grosso, também chamado de cólon, ou em sua porção final, no reto. Vale lembrar ainda que o principal tipo de tumor colorretal é o adenocarcinoma e, em 90% dos casos, ele se origina a partir de pólipos na região que, se não identificados e removidos, podem sofrer alterações ao longo dos anos, tornando-se cancerígenos.
No entanto, é preciso olhar também para o diagnóstico em pessoas mais jovens. Um dos estudos científicos que embasam a argumentação foi publicado no Journal of the National Cancer Institute e realizado nos Estados Unidos de 1974 até 2013. A análise mostrou que nas pessoas entre 20 a 39 anos de idade, por exemplo, o número de novos casos de câncer de intestino vem crescendo, de 1% para 2,4% anualmente, desde a década de 1980. Já a incidência do câncer de reto tem se elevado mais rapidamente (aproximadamente 3,2% ao ano, de 1974 à 2013 nas pessoas entre 20 e 29 anos de idade) 2.
De acordo com o Dr. Artur Ferreira, oncologista da Oncoclínicas em São Paulo, é muito importante que a população conheça os sinais do câncer colorretal e procure por um especialista o quanto antes. “Apesar da doença muitas vezes ser silenciosa, o paciente deve observar se há alteração nos hábitos intestinais, como constipação, diarreia, ou estreitamento do calibre das fezes, ausência da sensação de alívio após a evacuação, como se nem todo conteúdo fecal fosse eliminado, sangue nas fezes, cólicas, dor abdominal, perda de peso sem motivo aparente, fraqueza e sensação de fadiga”, explica.
É possível prevenir?
Dentre os fatores de risco do câncer colorretal, é possível observar uma relação com os hábitos alimentares e de vida, além de condições prévias de saúde. Como forma de prevenção, o oncologista reforça que é necessário seguir algumas orientações.
“Deve-se investir em uma dieta rica em fibras e uma menor ingesta de carnes vermelhas, processadas, praticar atividades físicas, evitar bebidas alcoólicas e tabagismo e manter um peso saudável. Além disso, é importante investigar se o paciente possui doenças inflamatórias intestinais crônicas, como a doença de Crohn ou colite ulcerativa, além do histórico familiar de casos de câncer colorretal”, explica Artur Ferreira.
Como o diagnóstico é feito?
Antes de tudo, o oncologista irá analisar o histórico do paciente e se existem possíveis sinais de risco para a doença. Em seguida, para que o diagnóstico seja de fato definido, é necessário a realização de exames, sendo o primeiro deles a avaliação física. Nela, o médico irá palpar o abdômen em busca de algum tipo de anormalidade, tais como órgãos aumentados ou massas no local e, em alguns casos, realizar o exame digital retal. Com o dedo protegido por uma luva lubrificada, o médico irá avaliar se existe alguma tumoração no reto do paciente. “Além do exame físico, para confirmar o diagnóstico, deve ser solicitado o exame de colonoscopia para a realização da biópsia de áreas suspeitas. Uma vez confirmado o diagnóstico, exames como a tomografia computadorizada, ressonância magnética, exames de sangue e, em alguns casos, o PET SCAN, devem ser realizados”, comenta.
Com estes exames, o médico irá avaliar também em qual estadio o câncer colorretal é classificado. Segundo o oncologista, essa informação é fundamental para determinar os passos do tratamento e entender se há ou não o comprometimento de outros órgãos.
- Estádio I — tumor confinado às partes mais superficiais do intestino, tais como a mucosa, submucosa ou a camada muscular do cólon ou do reto e sem comprometimento dos linfonodos regionais (gânglios);
- Estádio II — tumor confinado à serosa que reveste o cólon ou reto ou que atinge órgãos vizinhos, mas sem comprometimento dos linfonodos regionais;
- Estádio III — tumor que compromete os linfonodos próximos ao cólon ou reto, independente de sua extensão local;
- Estádio IV — tumor que compromete órgãos à distância (metástases).
Tratamento
Na maioria dos casos, felizmente o câncer colorretal é potencialmente curável. No entanto, é essencial que o diagnóstico aconteça precocemente, aumentando assim o sucesso do tratamento. “A equipe multidisciplinar irá avaliar cada caso à parte, adotando quais serão as estratégias e opções disponíveis para o paciente”, comenta o oncologista da Oncoclínicas em São Paulo.
Os tratamentos para a neoplasia podem ser definidos em dois tipos:
- Tratamentos locais (cirurgia, radioterapia, embolização e ablação): agem diretamente no tumor primário ou em metástases isoladas, sem afetar o restante do corpo. Portanto, podem ser indicados tanto nos casos iniciais quanto nas fases mais avançadas da doença.
- Tratamentos sistêmicos (quimioterapia, imunoterapia ou terapias-alvo): Podem ser realizados por drogas orais (comprimidos) ou endovenosas (na veia), aplicando diretamente na corrente sanguínea. Também podem ser indicados tanto nos casos precoces quanto avançados da doença
Vale lembrar ainda que o câncer colorretal é uma neoplasia que pode ser evitada enquanto estiver na fase pré-cancerosa. O procedimento consiste na retirada dos pólipos intestinais, através da colonoscopia, que podem surgir na parede interna do intestino grosso e reto.
“Diferentemente do câncer de mama, por exemplo, onde a doença é identificada geralmente em fase inicial com os exames de rotina, o tumor colorretal pode ser descoberto na fase pré-cancerosa com a colonoscopia. A boa notícia é que quando as lesões são precocemente removidas, o aparecimento do câncer pode ser evitado”, finaliza.